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Bolívia nacionaliza elétrica da Espanha

Presidente repete outros 1º de Maio e manda Exército tomar empresa no momento em que enfrenta protestos internos

Caso ocorre semanas após governo argentino nacionalizar petroleira espanhola; para Madri, casos são diferentes

Jorge Abrego/Efe
O presidente da Bolívia, Evo Morales (de capacete branco e camiseta azul), no ato em que o Exército tomou a empresa
O presidente da Bolívia, Evo Morales (de capacete branco e camiseta azul), no ato em que o Exército tomou a empresa

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou ontem a nacionalização da empresa Transporte de Eletricidade (TDE), de capital espanhol e responsável por 85% do setor do país. Ele ordenou a ocupação das instalações da companhia pelo Exército.

"É uma justa homenagem aos trabalhadores", disse Morales, seguindo o roteiro de comemorações de 1º de Maio anteriores, quando também promoveu nacionalizações (veja texto ao lado).

A expropriação da TDE, da qual 99,9% das ações pertencem à espanhola Red de Eletricidad de España (REE), ocorre duas semanas depois da decisão do governo argentino de expropriar quase todas as ações da também espanhola Repsol na maior petroleira argentina, a YPF.

Guardadas as proporções de escala -a TDE representa apenas 1,5% dos negócios de sua matriz-, o anúncio foi novo revés para Madri, que quer evitar a leitura de que seus ativos na América Latina estariam na mira de uma onda de nacionalizações.

"É uma infeliz coincidência para a Espanha", resumiu à Folha João Augusto de Castro Neves, analista do americano Eurasia Group.

A REE se disse surpresa com a decisão. Já o governo espanhol afirmou que o caso era "diferente" do argentino. Um motivo: a menor beligerância do governo Morales, que teria avisado o que ocorreria à chancelaria espanhola, segundo o "El País".

O boliviano justificou a expropriação acusando a empresa espanhola de investir pouco: cerca de US$ 5 milhões ao ano. Os números da TDE corroboram a redução.

O decreto prevê indenização para a empresa, a ser determinada por uma "empresa independente".

PRAGMATISMO E REPSOL

A expropriação de ontem coincidiu com a inauguração pela Repsol de uma estação processadora de gás no país -sinal do melhor clima diplomático entre La Paz e Madri e dos matizes da política nacionalizadora boliviana.

O presidente da Repsol, Antonio Brufau, chamou a Bolívia de "sócia-estratégica" -como outras, a empresa teve de renegociar sua atuação no país, após a nacionalização do setor, em 2006.

Os dois eventos mostram, para o analista Castro Neves, a tentativa do boliviano de combinar gestos grandiloquentes para agradar a base, como o envio de soldados à TDE, com acenos "pragmáticos" para atrair investimento estrangeiro.

Com política econômica ortodoxa e bons indicadores macroeconômicos, o governo Morales vive momento de crise política: trabalhadores exigem melhores salários enquanto parte de sua base indígena questiona uma estrada financiada pelo Brasil que cortaria a selva. Apesar da nacionalização, o dia foi de protesto nas principais cidades.

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