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"Tática do medo" leva Sarkozy a reduzir margem contra Hollande

Vantagem de socialista sobre atual presidente cai de 10 para 6 pontos desde o primeiro turno na França

Líder francês tem explorado com virulência risco de islamização e de alastramento da crise

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

O presidente-candidato Nicolas Sarkozy está usando, com virulência, a tática do medo para tentar evitar a vitória do socialista François Hollande, apontada desde antes do primeiro turno por todas as pesquisas.

Funciona em parte, mas não evita que Hollande continue a ser apontado como o vencedor pelas duas pesquisas divulgadas ontem, ambas com uma vantagem de seis pontos (53% a 47%).

Funciona em parte porque o presidente reduziu a margem que o separa do adversário, pelo menos nas pesquisas do IFOP, o mais antigo instituto francês do ramo: de dez pontos logo após o primeiro turno, realizado dia 22, caiu para seis ontem.

Mas funciona também contra ele, do que dá prova o fato de que o centrista François Bayrou (3,275 milhões de votos ou 9,13%) anunciou ontem que votará em Hollande no domingo, exatamente por seu inconformismo com a adoção pelo presidente de um discurso muito próximo ao da extrema-direita.

Esse discurso é o coração da tática do medo: Sarkozy evoca diariamente o risco de uma islamização da França, em termos que dão a nítida sensação de que as tropas do Corão estão às portas de Paris. Evoca também o que considera excesso de imigrantes, ligando-os não apenas ao avanço do islã mas também ao da criminalidade.

Na semana final de campanha, Sarkozy puxou também o medo do vermelho, a cor preferida das esquerdas.

Finalmente, no debate de anteontem e em discurso ontem, evocou o risco de um governo Hollande levar a França a uma situação igual à que, segundo ele, os socialistas de Espanha e Grécia provocaram em seus países.

É uma tática que cola: outra pesquisa do IFOP mostra que 49% dos franceses acham que a França provavelmente acabará em uma situação como a da Grécia ou a da Espanha, e mais 13% dizem que certamente é o que ocorrerá.

Compreende-se, pois, como Sarkozy sobreviveu ao debate com Hollande, como aponta pesquisa do instituto LH divulgada ontem.

É verdade que o socialista derrotou o candidato-presidente nos quesitos "mais convincente", "mais sério", "mais simpático", "mais próximo das preocupações dos telespectadores" e que "dá mais segurança". Sarkozy ganhou, no entanto, em "dinamismo", "credibilidade", "competência" e "mais estatura presidencial".

Empate, portanto, o que só pode ser atribuído à tática do medo: afinal, em matéria de simpatia, Hollande ganhou por 48% a 26%. Se, não obstante a antipatia, Sarkozy consegue o voto de 47% dos telespectadores, é porque a tática do medo toca uma fibra sensível do coração dos franceses.

Depõe, por exemplo, Bernard Sananès, presidente do instituto CSA: "A desconfiança em relação à globalização não é mais o apanágio dos partidos que criticam o capitalismo.

Com a crise, ela se generalizou: mais de 1 francês de cada 10 tem o sentimento de que a identidade da França está ameaçada e 8 franceses sobre 10 rejeitam a mundialização".

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