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Minha História Lucas Santos, 21

Um brasileiro para defender imigrantes

Paranaense Lucas Santos, que chegou aos Estados Unidos com oito anos, trabalha no Congresso americano em prol de latinos

(...) Depoimento a

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

RESUMO Exceção em uma comunidade migrante politicamente apática, Lucas Santos, 21, é estagiário de um deputado nos EUA. Veio com os pais aos 8, com visto de turista, e aos 13 se regularizou. A experiência o levou a focar na reforma imigratória, tema-chave na campanha americana. Ao planejar sua carreira política, porém, é o Brasil que ele mira.

Vim para os EUA com oito anos. Nós somos de Colombo, perto de Curitiba. Meu pai tentou se eleger vereador e perdeu por pouco. Ele estava frustrado e sem rumo quando ganhou um sorteio num posto de gasolina de uma passagem para os EUA, e achou que fosse um sinal.

Minha mãe estava grávida. Eu era filho único, depois nasceram minhas duas irmãs. Conseguimos nos legalizar porque meu pai tinha um patrão em um restaurante que legalizou mais de 20 brasileiros que trabalhavam com ele. Eu tinha 13 anos.

No Brasil, meu pai sempre me levava para conversar com políticos amigos dele. Eu achava chato. Mas, no fim do ensino médio, não sabia o que fazer. Pensei em medicina, só que cortei o olho e, ao ver o sangue, desmaiei. Como sempre fui bom em ciências políticas, resolvi tentar.

Entrei na Universidade de Massachusetts em Lowell. Conheci o [deputado democrata Michael] Capuano quando ele foi lá discursar. Ele representa Somerville [cidade nas cercanias de Boston], com população grande de brasileiros, e achei que este estágio poderia ser bom.

Estou no programa do Washington Center, que tem 400 estagiários do mundo e dos EUA. Sou o único brasileiro.

Penso em fazer carreira política, sim, mas no Brasil. O futuro dos EUA é incerto, e no Brasil eu teria mais chance. Aqui, os brasileiros acham que não vão fazer diferença votando. São muito sozinhos, só pensam em trabalho. Mas, se a população inteira de brasileiros regulares de Framingham [Massachusetts] votasse, teria algum poder.

A comunidade latina hoje tem mais poder por isso. O índice de comparecimento às urnas aqui não é alto. Os brasileiros poderiam ter voz se votassem nas eleições locais.

Fora isso, a minha geração não gosta de política. O que aconteceu com Obama, de os jovens se motivarem, precisaria de alguém como ele de novo. Agora é reeleição, não há tanta esperança.

O Obama também está manjado na comunidade latina, porque tinha maioria no Congresso quando assumiu e poderia passar a reforma migratória, mas nem tentou.

Se ele for reeleito, tem de tentar passar. São os latinos que vão definir a eleição, muitos especialistas dizem.

[Os congressistas] que representam comunidades latinas fazem um bom trabalho, mas os partidos os limitam. Veja o Dream Act [projeto de lei que legalizaria filhos de imigrantes irregulares]. Não vejo sentido em ter esse debate, é algo óbvio.

Eu foco em migração, vou a todas as audiências. Como a gente conseguiu se legalizar, conheço o processo em primeira mão -ia com o meu pai para traduzir, porque ele não falava inglês bem.

E quando os republicanos votam contra a reforma e chamam de anistia... Não é anistia o que os latinos pedem. É a chance de se legalizar, até porque o processo é longo e caro. Essas pessoas pagam impostos e não recebem benefícios -exceto escola pública, que não se pode negar.

Tenho amigos republicanos, e há sempre essa discussão: eles dizem que o imigrante vem aqui e viola a lei. Então também violei, porque meu pai veio e me trouxe?

Aliás, com a crise, meu pai está pensando em voltar. Tem muita gente voltando agora. Em Lowell, a comunidade diminuiu muito. Das famílias amigas da minha, voltaram umas 15. Meu padrinho voltou depois de 16 anos nos EUA para abrir um negócio.

Minha mãe, que é dentista e tem um trabalho bom aqui, não pretende voltar -mas, se meu pai entrar na política de novo, ela não vai ter opção, até por causa das minhas irmãs, de 12 e 10 anos. Elas têm uma vida boa aqui. Mas, quando vão ao Brasil, são tratadas como princesas.

Eu quero voltar um dia, mas com um currículo recheado, com algo a oferecer. Quero estudar mais administração pública, aprender como funciona aqui e tentar levar o que dá certo para o Brasil. Este é o último semestre na faculdade. O estágio está me abrindo portas, o programa enfatiza conhecer gente. É uma oportunidade única.

Se tem uma lição que aprendi em Washington foi a ser pró-ativo. É você mesmo que tem de buscar o que quer.

Brasileiros nos EUA se afastam da política
folha.com/no1085213

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