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Bin Laden temia por 'reputação' da Al Qaeda

Documentos apreendidos há um ano, após a morte do terrorista, mostram descontentamento com ações de filiados

Recém-divulgados, papéis mostram que terrorista festejou a Primavera Árabe e pretendia matar Obama

JASON BURKE
DO “GUARDIAN”

Documentos apreendidos por forças especiais dos EUA na casa de Osama bin Laden e divulgados por autoridades americanas revelam um líder frustrado com as ações de grupos filiados que, na visão dele, estavam sujando a reputação do nome Al Qaeda.

Dezenas de milhares de documentos, vídeos e disquetes de computador foram tomados durante a ação na qual o terrorista foi morto no Paquistão, há um ano, mas só 17 foram levados a público, no árabe original, com tradução em inglês e comentários de especialistas militares.

Os papéis, que datam de 2006 a abril de 2011, mostram que Bin Laden, confinado a uma casa de três andares em Abbottabad, no norte paquistanês, preocupava-se profundamente com a aparente perda de apoio à sua rede terrorista no mundo muçulmano.

Alguns meses antes de sua morte, ele estudou a possibilidade de promover uma grande mudança na imagem da Al Qaeda, para permitir que ela explorasse melhor as revoltas da Primavera Árabe.

Bin Laden, que tinha TV via satélite em sua casa, parecia bem informado sobre os acontecimentos mundiais.Um mês antes de morrer, aos 54 anos, ele descreveu os levantes da Primavera Árabe como "evento tremendo" e sugeriu o lançamento de uma campanha na mídia para exortar pessoas a "se rebelarem contra os governantes".

O líder da Al Qaeda não parecia ter deixado de lado a intenção de ataques a interesses e cidadãos ocidentais, com baixas maciças, mas mostrava também interesse no assassinato de políticos.

Em um dos papéis, o terrorista refere-se a um pedido que já fizera a um agente sênior para alvejar aviões que estivessem transportando o presidente Barack Obama e o general David Petraeus.

A maior parte dos documentos consiste em longas discussões sobre o fato de organizações regionais filiadas à Al Qaeda aparentemente não estarem seguindo suas diretivas. Em um deles, Bin Laden exorta líderes da Al Qaeda na Península Arábica, do Iêmen, a parar de atacar forças de segurança locais e focar o inimigo maior, os EUA.

O terrorista cita com frequência a Al Qaeda no Iraque, que perdeu apoio da população após uma campanha de violência contra xiitas iraquianos e sunitas que não reconheciam sua autoridade.

Bin Laden estava tão preocupado com danos potenciais à "marca" Al Qaeda que relutou em aceitar um juramento de fidelidade do grupo Al Shabab (Somália), que via como indisciplinado, indiscriminado nos atos de violência e sem apoio popular.

Propagandista hábil, o terrorista enviou a parceiros ideias para explorar a cobertura pela mídia dos dez anos do 11 de Setembro e sugeriu possíveis entrevistadores.

Tradução de CLARA ALLAIN

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