Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Hollande terá de decidir entre ser porta-voz dos pobres e manter elo com alemães

GIDEON RACHMAN
DO "FINANCIAL TIMES"

Ao votar por maioria esmagadora em partidos que desejam repudiar ou renegociar o acordo de resgate à Grécia, os eleitores gregos criaram um doloroso dilema para François Hollande.

Ele se alinhará ao povo grego contra a austeridade? Ou à Alemanha e ao FMI para insistir em que o resgate à Grécia não pode ser negociado?

A escolha que Hollande fizer será fatídica. Ele pode se posicionar como o líder dos rebeldes do sul da Europa.

Mas qualquer esforço francês para isolar a Alemanha na União Europeia seria uma virada histórica na política externa francesa do pós-guerra -construída em torno da ideia de que o casal franco-alemão deve comandar a UE.

Aliar a França ao sul do continente prejudicaria a imagem do país como uma das mais fortes economias da Europa. A percepção nos mercados também sofreria.

A maioria dos analistas presume que Hollande se satisfará com alguns gestos simbólicos de Berlim que lhe permitam dizer que mudou a direção do debate em favor do "crescimento".

Já antes de sua eleição, especialistas em Paris e Berlim delineavam os prováveis contornos de um acordo.

Um acordo entre Hollande e Angela Merkel, a chanceler alemã, teria mais ou menos as seguintes linhas: o francês já deu a entender que modificaria sua exigência de uma renegociação do novo pacto fiscal europeu -o acordo que torna lei manter Orçamentos públicos equilibrados.

A Alemanha em lugar disso aceitaria um novo pacto de crescimento definido de maneira vaga, que operaria em conjunção com o pacto fiscal.

O acordo também envolveria a rejeição da demanda de Hollande por títulos unificados de dívida europeia, os eurobonds, mas aceitaria "títulos de projeto", bancados pela União Europeia e destinados a financiar projetos de infraestrutura.

Também haveria acordo quanto a uma ampliação dos empréstimos pelo Banco de Investimento Europeu.

Seria a típica manobra de camuflagem da União Europeia e da parceria franco-alemã, permitindo que todos os participantes conduzissem uma honrosa retirada.

A nova erupção do vulcão político grego, no entanto, complica seriamente esse quadro. O problema se tornou tão agudo que não é mais possível corrigi-lo por meio de algumas cláusulas redigidas de forma esperta e acrescentadas a um tratado europeu.

A situação requer decisões reais, trabalhosas e difíceis. Especificamente, será que a Grécia levará adiante a obrigação de realizar nos próximos meses mais bilhões de euros em cortes de gastos, tal como previsto no mais recente acordo de resgate?

Tradução de PAULO MIGLIACCI

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.