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Análise Tecnicamente, jornalista não é um prisioneiro de guerra JOÃO PAULO CHARLEAUXESPECIAL PARA A FOLHA O jornalista francês Roméo Langlois não é "prisioneiro de guerra" das Farc porque isso não existe na Colômbia. Pelas Convenções de Genebra, "prisioneiros de guerra" só existem em conflitos armados internacionais. O repórter do canal France 24, capturado quando acompanhava uma ação do Exército colombiano no departamento de Caquetá, no dia 28 de abril, é tecnicamente um "refém". E só passaria a "sequestrado" caso a guerrilha pedisse um resgate por ele. De qualquer forma, a abdução é ilegal. O Brasil teve prisioneiros de guerra em conflito armado interno na Revolução de 1932, em São Paulo, por um acordo firmado entre as partes. Na Colômbia, governo e guerrilha nem sonham em estabelecer um trato assim. Mas categorizar Langlois como "prisioneiro de guerra" não é um erro primário das Farc. Trata-se, antes, de um artifício hábil da guerrilha. Com isso, elas tentam se cacifar novamente como "força beligerante" num conflito que vêm perdendo importância política, migrando decadentemente da categoria de "guerra civil" para a categoria de combate ao terrorismo, ao tráfico de drogas, quase de crime comum. Langlois virou mais um peão nesse jogo de termos jurídicos e políticos que opõe governo e guerrilha. Mas há uma segunda consideração, de ordem prática. Jornalistas têm cada vez mais -e especialmente jornalistas brasileiros no Haiti- aceitado carona, comida, hospedagem e companhia de Exércitos para cobrir conflitos armados. Essa prática embute um risco, como prova o caso de Langlois. Ninguém vai para um teatro de operações mimetizando uma força beligerante impunemente. O fato de ele estar, pelas informações disponíveis, vestido como os militares não o torna um alvo legítimo, mas, aos olhos de quem vê pela alça de mira, homens fardados parecem todos iguais. JOÃO PAULO CHARLEAUX é coordenador de comunicação da Conectas Direitos Humanos Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros |
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