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Embate franco-alemão pode ajudar euro Precedentes históricos mostram que, com líderes em polos opostos, França e Alemanha auxiliam mais o continente Especialistas acreditam que diferenças políticas entre Merkel e Hollande devem melhorar a relação com a Europa CAROLINA VILA-NOVADE SÃO PAULO Merkollande, HoMer, Frangela e até o ofensivo Merde. Depois da onipresença do duo Merkozy -símbolo do impulso de austeridade no combate à crise-, a mídia internacional passou os últimos dias tentando redefinir a cara da parceria entre a Alemanha da chanceler Angela Merkel e a França do presidente François Hollande. Mas, para analistas, a Europa precisa extrapolar o dueto franco-alemão para obter solução para um de seus momentos mais dramáticos. O precedente histórico é positivo. Surpreendentemente, a relação Berlim-Paris funcionou melhor para a Europa sempre que seus líderes representavam posições politicamente antagônicas. Foi assim com Helmut Schmidt (social-democrata) e Valéry Giscard d'Estaing (centro-direita) e entre Helmut Kohl (conservador) e François Mitterrand (socialista). "Naqueles dias de formação da união monetária [Kohl e Mitterrand], foi importante que a França e Alemanha estivessem em polos opostos, pois tiveram de lutar para obter consenso", avalia Ulrike Guérot, representante para a Alemanha do Conselho Europeu de Relações Exteriores. "Independentemente do partido político, sempre que os líderes eram de orientações próximas, como no caso de Jacques Chirac e Gerhard Schröder, a parceria deixou de gerar consenso para se tornar um acordo franco-alemão contra o resto da Europa. Foi assim com o Merkozy em uma série de temas", afirmou à Folha. "Quando se parte de posições diferentes, como Hollande [socialista] e Merkel [conservadora] agora, é necessária toda uma reflexão sobre a que compromissos chegar; essa reflexão inclui os demais e faz com que todos, no fim, tenham a autoria do projeto." Para ela, isso significa que o dueto precisa ser quebrado. "Justamente devido às diferenças entre França e Alemanha, é preciso um segundo ou terceiro parceiro para mediar entre eles. Podem ser os poloneses, os italianos, os britânicos. É isso que trará nova energia à União Europeia", avalia. Do outro lado do canal, a percepção é distinta. "É preciso ter cuidado em primeiro lugar sobre como interpretamos o Merkozy", disse à Folha Philip Whyte, pesquisador sênior do "think tank" Centro para Reforma Europeia, de Londres. "Não era nenhum duopólio, e sim o sistema hegemônico alemão, em que Nicolas Sarkozy fingia ser um parceiro quando na verdade era subordinado à Alemanha. Não vejo uma mudança fundamental nessa dinâmica no curto prazo", afirma. Para ele, a dinâmica futura será determinada pelo tamanho do isolamento de Merkel diante do debate "austeridade x crescimento" -já sinalizada na cúpula do G8 no fim de semana nos EUA. Whyte avalia que, embora ambos concordem que o estímulo ao crescimento seja necessário, persistem diferenças sobre a abordagem. "Em termos de personalidade, a expectativa é que eles trabalhem bem. Merkel é uma política fria e calculista, enquanto Sarkozy era impulsivo. Hollande é pragmático e não ideológico. Mas eles têm diferenças fundamentais em política econômica", afirma. "O que Hollande quer dizer com medidas de crescimento não é o mesmo que Merkel. Ela pensa em demanda, ele pensa em estímulo fiscal. Até agora, os alemães prevaleceram, e temos uma região inteira comprometida com austeridade fiscal. O que pode ser feito agora é comer pelas beiradas", acredita. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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