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Análise

França tem longa agenda internacional à sua espera

ALEXANDRE MORELI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A repetição da tomada popular da praça da Bastilha na noite do último 6 de maio encontra ecos no mesmo acontecimento de 31 anos atrás, quando da eleição de François Mitterrand.

Tratava-se, então, do primeiro presidente socialista da Quinta República, inaugurada por De Gaulle em 1958. Mas quanto dessa nostalgia se reflete em realidades históricas semelhantes?

O tom sóbrio das primeiras declarações de François Hollande lembrou rapidamente seus eleitores de que os tempos são outros.

Todos têm obviamente consciência de que a crise econômica pela qual o país e a Europa passam não encontra precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.

Entretanto, há também diferenças importantes no que se refere à inserção internacional do país, tema que ficou marginalizado na campanha eleitoral, mas que colocará rapidamente o novo presidente à prova.

Em 1981, a eleição de Mitterrand parecia dar ao bloco do leste uma vantagem adicional em uma Guerra Fria relançada pela crise dos euromísseis, pela invasão soviética do Afeganistão e pela eleição de Ronald Reagan nos Estados Unidos.

Entretanto, mesmo contando com ministros comunistas (os mais precipitados conservadores temiam mesmo a entrada de tanques soviéticos no país!), Mitterrand logo acabou por endurecer o tom nas relações com Moscou e por reforçar a solidariedade ocidental.

Apenas empossado, uma agenda internacional impressionante já aguardava Hollande: reunião do G8 no fim de semana; da Otan, que termina hoje; do G20, em 18 e 19 de junho; e do Conselho Europeu, em 28 e 29 de junho.

As poucas promessas de campanha (como a antecipação da retirada das tropas francesas do Afeganistão e a relativização das medidas de austeridade na eurozona) parecem levar Paris de encontro à política de seus aliados, sem mencionar a espera do bloco dos emergentes por um posicionamento mais preciso do novo governo em questões como o futuro do Fundo Monetário Internacional ou da reforma da ONU, que ele já disse apoiar.

Apesar dos novos tempos e assim como Mitterrand, Hollande deverá rapidamente esclarecer quais serão suas escolhas em face de uma realidade internacional em transformação, que está mudando o centro de gravidade do planeta e redistribuindo o crescimento mundial.

ALEXANDRE MORELI é pesquisador do Centro de Relações Internacionais da FGV

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