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Relatório diz que revoltas árabes terão efeito restrito

Estudo da LSE sugere que a onda de protestos não mudará instituições

Relatório aponta Tunísia como exceção, mas alerta para a possível falta de foco de partidos inexperientes

GABRIELA MANZINI
EM LONDRES

Revoluções são mesmo bastante raras, e são mínimas as chances de, no futuro, a chamada Primavera Árabe ser tida como algo além de uma onda de protestos.

Essa é a conclusão de um relatório feito por dez pesquisadores da britânica LSE (London School of Economics) a respeito do episódio.

"Nenhum dos Estados da região, à exceção da Tunísia, preenche sequer os mínimos requisitos para o sucesso revolucionário, que dirá para a 'condição máxima' -a institucionalização de uma nova ordem política, econômica e simbólica", escreve George Lawson, historiador especialista em revoluções. Para ele, a instabilidade ainda é o principal fruto das revoltas.

O motivo, explica, é o fato de os manifestantes terem cultivado ambições restritas, que tratavam mais de representação política do que de reorganização social. "A região está presa entre pactos frágeis, renovação antiliberal e reivindicações frustradas."

Mesmo a Tunísia, diz, precisa tomar cuidado para que a economia não seja negligenciada por conta da inexperiência dos partidos políticos. Esses grupos tendem a priorizar erroneamente questões de importância secundária, mas que lhes são familiares, como o uso do véu.

"Organizar uma eleição confiável não é suficiente. A Tunísia precisa de uma mudança radical que previna o desenvolvimento de uma nova rede clientelista que sirva novos chefes nos moldes do corrupto regime", diz a pesquisadora Fatima al Issawi.

O problema é que o modelo representado por Zine al Abidine Ben Ali, ditador tunisiano destronado em 2011, é dado à resiliência.

Por natureza, ele torna as relações entre Estado e sociedade extraoficiais e flexíveis, ou seja, capazes de "mudar para satisfazer as necessidades de patrão e cliente em momentos de confusão política e escassez econômica", descreve Toby Dodge, cientista político e consultor do IISS (Instituto Internacional para Estudos Estratégicos).

O relatório da LSE traz ainda um conciso capítulo sobre a Líbia no qual destaca a falta de controle sobre as milícias que lutaram pela queda do ditador Muammar Gaddafi e prevê que as eleições parlamentares de junho representarão ou o remédio para a falta de legitimidade do governo rebelde ou a volta da elite.

Em 2011, a escola britânica protagonizou um escândalo por ter aceitado uma doação de Gaddafi após ter dado ao filho Saif (hoje preso na Líbia) o título de doutor, apesar de acusações de plágio.

Outro relatório, da Freedom House, também afirma que, em relação à liberdade de imprensa, apesar da melhora observada em 2011 na Tunísia, na Líbia e no Egito, se não houver vigilância, poderão sobrar poucos avanços.

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