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Revolução ainda pesa no bolso dos egípcios

Presidente que vencer eleição cujo 1º turno foi concluído ontem precisa reverter declínio econômico desde queda de ditador

Instabilidade política é principal motivo da crise; para analista, economia tem sido mal gerida pelos militares

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

O café Fishawy, que durante anos serviu de escritório informal para o Nobel de Literatura egípcio Naghib Mafouz, é hoje uma pálida lembrança dos dias em que vivia apinhado de gente.

Situado numa rua estreita do mercado antigo do Cairo, uma das principais atrações turísticas da capital, o lendário café está vazio, num retrato do declínio econômico enfrentado pelo país desde a queda do ditador Hosni Mubarak, no ano passado.

A recuperação da economia é um dos maiores desafios do novo presidente, que emergirá da histórica eleição concluída ontem. Resultados oficiais só devem sair na terça, e tudo indica que será preciso um segundo turno de votação (em 16 e 17 de junho).

A polarização da campanha indica que não há remédio a curto prazo para instabilidade política, motivo principal da crise econômica. "Perdi mais de 60% da receita", queixa-se Zaher al Bial, vendedor de bijuterias.

No interior da loja, mostra discretamente um poster de seu candidato favorito, o ex-chanceler Amr Moussa. "Ele tem experiência e é conhecido no mundo, o que ajudará na volta dos turistas."

O crescimento do PIB encolheu de 5% para menos de 2%, e investimentos estrangeiros tiveram forte queda devido à instabilidade no país.

Segundo a economista Magda Kandil, do Centro Egípcio de Estudos Econômicos, um terço do turismo que o país recebia desapareceu desde a revolução. Os problemas se agravaram, diz ela, devido ao manejo econômico equivocado da junta militar, que concentrou os gastos públicos em subsídios e pagamentos de salários para reduzir a insatisfação popular.

Somado a isso, houve maciça interferência para evitar uma desvalorização maior da moeda. O resultado foi a perda de metade das reservas do país, que em janeiro de 2011 eram de US$ 36 bilhões e hoje estão em US$ 15 bilhões.

Subsídios em alimentos e combustíveis não direcionados significam um desperdício intolerável num país com graves problemas econômicos, observa Kandil, já que mesmo a parcela rica da população é beneficiada:

"Um quinto do orçamento destina-se a subsídio de combustível, mas 80% dele vai para os setores mais ricos".

Os problemas econômicos que foram o estopim da revolução pioraram no último ano. O desemprego, que na época de Mubarak estava em 9%, subiu para 11,5%. Sem contar a enorme massa de trabalhadores que foi para o mercado informal.

O setor privado foi espremido com a queda na demanda e o custo do crédito, resultando no fechamento de empresas e em mais desemprego. Além disso, a inflação em alta atingiu principalmente os mais pobres, já que os alimentos estão entre os itens que ficaram mais caros.

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