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Egito terá aliança inusitada entre liberais e islamitas

União tem o objetivo de barrar candidato ligado a Mubarak no 2º turno

Ativistas tendem a apoiar candidato da Irmandade Muçulmana contra ex-premiê Shafiq em votação em junho

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A CAIRO

Num esforço para barrar a chegada de um aliado do antigo regime à Presidência, forças liberais no Egito se articulam para apoiar o candidato da Irmandade Muçulmana no segundo turno da eleição, no próximo mês.

A aliança improvável é fruto do choque causado entre ativistas pelo triunfo eleitoral do militar Ahmed Shafiq, o último premiê nomeado pelo ditador Hosni Mubarak, derrubado pela revolução de fevereiro de 2011.

Segundo resultados não oficiais, Shafiq foi o segundo mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais e enfrentará na fase decisiva Mohamed Mursi, do Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana.

O pedido de apoio de Mursi aos eleitores de candidatos que se opõem a Shafiq tende a surtir efeito, apesar dos temores entre os liberais de uma radicalização islâmica.

Uma questão decisiva é para quem irão os votos do socialista Hamdin Sabahi, surpresa da eleição, que ficou em terceiro (22%). Ontem, ele pediu recontagem parcial dos votos, citando fraudes.

O islamita Abdel Moneim Aboul Fotouh, quarto colocado, indicou que apoiará Mursi. Assessores do ex-chanceler Amr Moussa, que ficou em quinto, disseram à Folha que ele não endossará nenhum dos finalistas.

Abatido com o resultado do primeiro turno, o analista político e ativista pró-democracia Hisham Kassem lamentou ter que apoiar a Irmandade, que domina quase metade do Parlamento.

"Um presidente islamita criará um desequilíbrio indesejável, mas é melhor do que um representante do regime corrupto de Mubarak", disse Kassem à Folha.

Fundador do principal jornal independente do Egito, "Al Masry al Yom", Kassem disse que faltou maturidade aos liberais para se unir em torno de um candidato capaz de enfrentar a máquina do antigo regime por trás da campanha de Shafiq.

Alaa Al Aswany, mais conhecido escritor egípcio e entusiasta da revolta contra Mubarak, desafiou Shafiq a um debate público e afirmou ter documentos que comprovam 35 casos de corrupção envolvendo o ex-premiê.

Num estridente confronto travado na TV no ano passado, Aswany acusou Shafiq de cumplicidade com as mortes de manifestantes pela polícia na praça Tahrir. Um dia depois, Shafiq renunciou ao cargo de premiê.

Depois de obter 24% dos votos na primeira fase, numa campanha centrada na restauração da ordem pública, Shafiq prometeu cumprir as demandas da revolução.

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