Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Análise

Batalha entre pró e antirrevolução não se esgota no 2º turno

ARLENE CLEMESHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Consolidou-se nas urnas o pior cenário possível para a revolução no Egito. Enquanto o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, representa um projeto de reformas limitadas, sectárias e em grande medida autoritárias, a opção por Ahmed Shafiq aborta a revolução.

São conhecidos os fatores que explicam as vitórias até aqui sucessivas da Irmandade, como sua capacidade de organização e inserção popular por meio de obras de ajuda aos mais carentes, bem como sua relação com importantes setores financeiros ligados aos negócios petrolíferos dos emirados do Golfo.

A pergunta hoje é se há alternativa à sua permanência no poder ou maneira de impedir seu controle quase absoluto sobre o processo de transição política do Egito, incluindo a tarefa de aprovar uma nova Constituição.

O problema não é tanto aquele da influência da sharia (lei islâmica) no novo código de leis.

O Egito, bem entendido, já é uma república islâmica e a sharia já constitui uma das fontes da sua legislação. Mas sim o fato do caráter autoritário da velha organização islamista comprometer seriamente os objetivos originais da revolução.

O bloco revolucionário, por sua vez, constitui agrupamento solto de redes interconectadas, detentor de grande criatividade bem como limitações organizacionais.

Seus integrantes possuem convicções antiautoritárias, de combate ao Estado policial no Egito, e chegam em muitos casos à rejeição explícita de qualquer comprometimento ideológico.

Minoritários em termos eleitorais, suas atividades incluem a redação de uma Constituição alternativa da sociedade civil.

Por mais desalentador que seja o resultado das eleições no Egito, o fato é que a batalha entre os blocos revolucionário e contrarrevolucionário continuará por pelo menos alguns anos.

A transição que terá início após o segundo turno, em 17 de junho, levará a muitos embates em torno da mudança das leis e reconstrução do aparelho estatal, sem excluir a probabilidade de mais enfrentamentos nas ruas das principais cidades egípcias.

ARLENE CLEMESHA é professora de História Árabe e diretora do Centro de Estudos Árabes da USP

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.