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Análise

Não há perspectiva, no momento, de que o país se torne uma nova Líbia

RICHARD KAREEM AL-QAQ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O brutal massacre de mais de cem civis em Houla uma vez mais trouxe à tona a questão de como a comunidade internacional deveria responder ao conflito sírio.

Pelos últimos dois meses, a comunidade internacional vem apoiando o "Plano Annan", que envolve a presença de uma pequena equipe de observadores de cessar-fogo da ONU em território sírio.

Ainda que o plano tenha propiciado progresso prático limitado e nada tenha feito para impedir o mais recente massacre, ele ao menos conseguiu unir a comunidade internacional em torno de uma abordagem comum, o que serviu para superar o impasse entre a Rússia e o grupo P3 (EUA, França e Reino Unido) no Conselho de Segurança.

A despeito do massacre e da subsequente expulsão de diplomatas sírios por diversos governos em todo o mundo, a questão de como enfrentar o regime de maneira efetiva é complexa. Não existem, no momento, perspectivas de que a Síria se transforme em uma nova Líbia.

Mesmo as potências ocidentais mais acostumadas à intervenção militar não estão debatendo essa opção. Sabem que uma operação da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte) não é politicamente viável -a complexa dinâmica regional e política torna essa alternativa inaplicável.

A ONU é o único fórum para uma decisão como essa e lá, no Conselho de Segurança, não há vontade política necessária para aprovar ação militar.

As opções que restam à comunidade internacional para enfrentar o regime sírio são limitadas, portanto. Não parece haver alternativa ao Plano Annan. O próximo passo mais provável será o Conselho de Segurança ampliar as atribuições, presença e intensidade das ações de seus observadores na Síria.

Uma presença mais forte da ONU limitaria a liberdade de ação do regime e enviaria uma mensagem forte sobre a disposição de agir da comunidade internacional.

Também é provável que o regime de sanções da ONU seja intensificado, de forma a pressionar mais aqueles que têm algo a perder na Síria.

No entanto, a melhor solução talvez venha a ser uma transição negociada, com intermediação do grupo P3 e da Rússia, sob a qual Assad e seus seguidores teriam garantido o exílio em troca de sua renúncia ao poder, como aconteceu no Iêmen.

A despeito dos massacres, ainda não é tarde demais para que a escalada dessa guerra civil seja detida por meio de uma solução política.

RICHARD KAREEM AL-QAQ é doutor em ciência política e pesquisador da Escola de Estudos Orientais e Africanos, Universidade de Londres.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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