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'Ataques aéreos geram ressentimento, mas são vitais'

Para Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança da Casa Branca, drones ajudam em saída do Afeganistão

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O uso de aviões não tripulados (drones) contra a Al Qaeda é indispensável para possibilitar a saída ordenada dos EUA do Afeganistão.

A avaliação é de Zbigniew Brzezinski, assessor de Segurança Nacional de Jimmy Carter (1977-81) e um dos principais estrategistas da política externa americana no século 20. Brzezinski, 84, falou à Folha sobre o Oriente Médio e seu novo livro, "Strategic Vision" (Basic Books), que sugere um roteiro para os EUA se manterem superpotência.

Folha - O sr. diz no livro que uma vantagem dos EUA é a capacidade de reagir quando o país vai mal. Na maioria das vezes, isso ocorreu durante guerras. Será possível fazê-lo em época de paz?
Zbigniew Brzezinski - Uma alternativa à guerra é um desafio externo à primazia americana. Muitos americanos exageram ao pensar que a China represente tal desafio. Mas o fato de pensarem assim ajuda a concentrar sua mente nas vulnerabilidades do país e os torna mais inclinados a pensar nos possíveis remédios.

O sr. defende a redefinição do "sonho americano", com menos ênfase no consumo e mais no intelecto. Como vê o movimento "Ocupe Wall Street"?
Entendo as emoções [do "Ocupe"], mas não é eficaz. Mais importante é tornar o público americano ciente de que as crescentes disparidades de renda devem ser enfrentadas. O sistema financeiro americano tem sido, em alguns aspectos, influenciado demais pela especulação e pela ambição ilimitadas.

Os EUA trocam a ação militar direta no Iraque e no Afeganistão por operações secretas e uso de aviões não tripulados para matar supostos terroristas. É boa política?
Tenho certeza de que causa algum ressentimento, mas o fato de haver uma ameaça da Al Qaeda e mesmo do Taleban indica que essa rejeição já existe. A função desses ataques não é intensificar o conflito, ou mesmo vencê-lo, mas tornar possível uma retirada ordenada. É uma arma tática, e não estratégica.

Brasil e América do Sul não estão na sua proposta de um "Ocidente ampliado". O Brasil tem lugar na estratégia dos EUA para manter liderança?
Claro, porque é um país muito importante. Mas não está na Eurásia -que, para o bem ou para o mal, é a região mais importante do mundo.
Uma resposta geoestratégica para o problema da Eurásia tem que antes se concentrar no que acontece lá, para manter a estabilidade.
Mas, na cena global, se o Brasil estiver inclinado a ter um papel mais ativo, deve estar disposto a participar não apenas das cerimônias e privilégios da liderança, mas também de alguns dos custos, obrigações e sacrifícios que uma liderança exige.

EUA e China poderão chegar à acomodação em questões como as atividades militares americanas na zona econômica marítima chinesa?
Os EUA devem fazer ajustes significativos a esse respeito. Ao mesmo tempo, diria que os líderes americanos e chineses reconhecem que é do interesse vital dos dois países evitar conflitos e a demonização mútua. Estão cientes de que ambos sofrerão se a relação se deteriorar e se beneficiarão se uma parceria genuína for mantida.

Está otimista sobre a negociação atual com o Irã?
Não estou tão otimista. Mas ainda espero que o bom senso prevaleça, porque um conflito com o Irã, ou a imposição ao Irã de exigências excessivas, criará uma situação que seria danosa para a região e muito prejudicial à economia global.

Os EUA têm uma política clara para o conflito na Síria?
Não. Vejo muita emoção e slogans. Não sei quais são os verdadeiros planos da Casa Branca nem como serão implementados a menos que consigamos a colaboração internacional.
Se agirmos só na base da emoção e de ameaças vagas de que os russos têm que se comportar como bons garotos, provocaremos uma explosão regional na qual os assuntos internos da Síria serão ligados aos conflitos entre os sauditas e os xiitas, o Iraque será desestabilizado e poderemos ter o rompimento das negociações com o Irã.
Teremos um enorme problema internacional.

O sr. é contra uma intervenção militar, mesmo com a continuação da violência lá?
A violência é terrível. Também aconteceu numa escala muito maior em países nos quais não interviemos, como Ruanda e Sri Lanka.
A menos que haja cooperação para uma proposta que o governo Assad possa suportar, incluindo um esforço supervisionado para algum consenso interno, esse conflito não acabará.

Leia a íntegra
folha.com/no1100770

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