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Julia Sweig

Frustração acerca da Síria

A noção de que o poderio dos EUA pode reprogramar DNA das nações é em grande parte ilusória

O efeito perverso do massacre da semana retrasada em Houla é demonstrar como a comunidade internacional está carente de soluções para o fim do conflito sírio.

As dimensões morais dessa crise -dezenas de milhares de mortos a mais no próximo ano- são profundas e sem respostas fáceis. Há uma década escuto os gurus de Washington defenderem operações americanas de mudança de regime no Oriente Médio e no golfo Pérsico.

Iraque, Afeganistão, Irã, Líbia e agora a Síria motivaram a noção, em grande parte ilusória, de que o poderio americano pode reprogramar o DNA de nações a meio mundo de distância, a um custo gerenciável.

Essas discussões soam como uma versão anabolizada dos debates sobre a América Central na década de 1980. Na época, armar os contras da Nicarágua ou financiar a contrainsurgência governamental em El Salvador eram a última palavra em termos de estratégia de segurança nacional da Guerra Fria.

É difícil crer, mas essas políticas criaram outrora profundas divisões no Congresso e na opinião pública como um todo. É claro que as apostas hoje parecem muito mais elevadas: Israel, proliferação de armas químicas e nucleares, Al Qaeda.

Sem querer minimizar a gravidade da crise, e tentando suspender meu ceticismo a respeito de mais uma guerra no Oriente Médio, dei uma volta pelos blogs de Washington à procura de inspiração.

Encontrei uma coalizão informal de intervencionistas humanitários e falcões neoconservadores com receitas para escalar e então encerrar o conflito sírio. Armar a oposição, mobilizar apoio aéreo, aplicar inteligência, diplomacia, sanções: esses instrumentos acabarão inclinando a balança contra Assad, com o grande benefício estratégico de enfraquecer o Irã e fortalecer Israel.

Assim como nas discussões acerca da América Central três décadas atrás, as propostas vêm com uma combinação de estatura moral elevada e autoconfiança excessiva -uma combinação familiar na história americana.

A mensagem da Casa Branca, no entanto, é bem mais circunspecta. A diversidade étnica da Síria, a densidade populacional, a lealdade dos militares, a fraqueza da oposição, a falta de apoio da Liga Árabe e o "amparo" da Rússia a Assad se combinam para tornar inviável uma intervenção militar direta comandada ou apoiada pelos EUA.

Esse é o argumento, ao menos por enquanto, embora passos humanitários específicos sejam avaliados.

As ironias são profundas. O presidente Obama recentemente anunciou a criação do Conselho de Prevenção das Atrocidades. O site da Casa Branca descreve um impressionante plano multidepartamental para institucionalizar o conceito e praticar a prevenção a atrocidades.

O formato levou mais de um ano para ser desenvolvido e levará anos para frutificar. Gostaria que fosse diferente, mas esta Casa Branca dificilmente impedirá atrocidades na Síria. E fora de Washington?

Poderia o Brasil ajudar, quando mesmo as grandes potências estão relutantes? Esse seria um grande momento para experimentar as ideias por trás da "responsabilidade ao proteger" de Dilma Rousseff.

Tradução de RODRIGO LEITE

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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