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Análise China

Pequim vive dilema sobre estímulo para a economia

Novas medidas podem minar esforço recente para priorizar consumo interno

JAMIL ANDERLINI
DO “FINANCIAL TIMES”

Se A CHINA NÃO VIRAR UM MOTOR DE CONSUMO PARA SUA INDÚSTRIA, ENTÃO ISSO SERÁ UM PROBLEMA DE VERDADE PARA TODO O MUNDO

Em xadrez, o termo zugzwang se refere a uma situação em que o jogador não pode passar a sua vez, mas qualquer jogada que fizer vai colocá-lo em uma situação pior.

Isso também descreve muito bem a situação do governo chinês ao cortar a taxa de juros pela primeira vez desde o auge da crise, no fim de 2008.

Com o crescimento desacelerando bem mais que o esperado e uma série de indicadores perdendo força, Pequim foi forçada a agir para animar a atividade da segunda maior economia global.

Mas muitos economistas e analistas -de dentro e de fora do governo- alertam dos perigos de uma nova rodada de estímulo e crédito fácil, que pode inflar novamente a bolha dos imóveis e piorar os graves desequilíbrios estruturais já existentes.

"Esse corte nos juros é uma indicação clara de que o governo espera mais desaceleração nos dados de maio [que serão divulgados amanhã]", disse Stephen Green, economista do Standard Chartered.

"Mas há o risco óbvio de que o aumento do foco no curto prazo afete a agenda de reforma estrutural."

Nas últimas duas décadas, a economia chinesa tem sido impulsionada pelo investimento e pela indústria de exportação, mas todos (dos líderes chineses aos banqueiros) concordam que o país deve adotar um modelo de crescimento mais voltado ao consumo que ao investimento.

"Se a China não conseguir se tornar um motor de consumo para sua própria indústria, então isso será um problema de verdade para todo o mundo", disse um executivo que tem investimentos em diversos setores do país.

Investidores na China dizem que a maioria dos setores está muito fraca, e quase todos esperam uma resposta mais forte do governo, incluindo gastos estatais em investimento e infraestrutura.

Analistas afirmam que uma nova rodada de estímulo é provável porque o maior problema não é o custo ou a disponibilidade de crédito, mas sim a falta de demanda por empréstimo em um ambiente de queda de vendas, grandes estoques, lucros fracos e excesso de produção.

"Cortar os juros vai ajudar a confiança, mas não vai alavancar uma retomada se não houver gastos do governo em infraestrutura", disse Wang Tao, economista do UBS.

"Isso não é compatível com o objetivo de longo prazo de reequilíbrio da economia, mas não tem muito o que o governo possa fazer, porque ele precisa de crescimento."

Porém, muitos especialistas dizem acreditar que esse novo dinheiro será dirigido ao lucrativo e superaquecido mercado imobiliário.

Com opções tão desanimadoras, este é claramente um ciclo de baixa econômica em que o governo chinês preferiria passar a vez.

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