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Clóvis Rossi

O G20, entre o bom senso e o precipício

Cúpula da próxima semana começará ante o vazio que é a indefinição na Grécia

A cúpula do G20 na semana que vem, no México, será uma versão daquele desenho animado em que o coiote corre, corre, corre e, de repente, acaba sem chão sob as patas. Só não cai se não olhar para baixo.

No caso do G20, não adianta os governantes olharem para cima, para baixo ou para o lado. Enxergarão apenas o vazio.

Explico: a cúpula começa dia 18, um dia depois de a Grécia ter votado de novo. Se as pesquisas estiverem certas, a nova eleição tampouco produzirá uma perspectiva clara de governo, seja qual for. Logo, tampouco ficará claro se a Grécia permanece no euro -e em que condições- ou se sai. Se sair, quais serão as consequências para o resto dos países europeus e para o mundo?

Nessa bruma toda, fica muito difícil para o G20 definir um plano de ação conjunta e coordenada, como o fez em 2008/09, o que, de resto, foi fundamental para evitar um colapso econômico global.

O mais provável é uma repetição do que aconteceu na cúpula anterior (Cannes, novembro): ficam todos os demais países cobrando ação da Europa, que é o epicentro da crise neste momento, sem que a Europa consiga de fato armar algum coisa de fato consistente.

A cobrança já começou na sexta-feira, em pronunciamento do presidente Barack Obama que se parece com o que tem dito Dilma Rousseff.

Ela, aliás, já adiantou aos negociadores brasileiros que devem deixar claro que os países ditos emergentes não podem ficar eternamente responsáveis pela maior parte do crescimento da economia mundial. Se os países ricos não saírem da catatonia, o motor global vai parar (está parando aliás).

Obama também disse anteontem que o problema está nas mãos da Europa e até deu palpites precisos sobre o que fazer, a saber:

1 - "No curto prazo, têm que estabilizar o seu sistema financeiro. E parte disso é adotar ação clara tão depressa quanto possível para injetar capital nos bancos fracos."

Não se trata de uma visão iluminada do presidente. É tão óbvio que até eu já escrevi a mesma coisa dias atrás.

2 - "No longo prazo, ao mesmo tempo em que países europeus com grandes cargas de débito implementam a necessária reforma fiscal, também têm que promover crescimento econômico e criação de empregos."

Obama deu-se ao trabalho de ser didático a ponto de explicar que países como Espanha e Itália, que embarcaram em reformas estruturais "inteligentes", precisam de tempo para que elas deem certo. "Se eles apenas cortam, cortam e cortam, e sua taxa de desemprego sobe, sobe e sobe, e as pessoas estão evitando gastar dinheiro porque sentem um bocado de pressão, ironicamente isso pode na verdade tornar mais difícil para eles executar algumas das reformas."

O que Obama está dizendo é puro sentido comum, assim como é de bom senso afirmar que as reformas têm que ser acompanhadas de "crescimento econômico e criação de emprego".

Parece Dilma Rousseff ou François Hollande pregando para Angela Merkel. Será que ela ouve desta vez ou olham todos para baixo e caem no precipício?

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Rubens Ricupero

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