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Análise

Dilma acredita que países ricos não fizeram sua parte

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasil foi escolhido pela dobradinha EUA-França para liderar a partir de junho de 2004 a Minustah, força internacional de estabilização do Haiti, e aceitou de bom grado por dois bons motivos, um político, outro prático.

Do ponto de vista político, a tarefa cabia perfeitamente nos planos do governo Luiz Inácio Lula da Silva de elevar o status brasileiro, como líder na América do Sul, protagonista internacional e candidato a uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.

Do ponto de vista prático, era a chance ideal para treinar soldados brasileiros para missões que eram historicamente proibidas internamente e vinham sendo flexibilizadas na Constituição.

Eram as Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ou seja, de combate à violência em áreas urbanas.

A negociação com a ONU previa que as tropas brasileiras seriam empregadas para conter a violência fratricida no Haiti, com o compromisso de que as nações ricas despejariam bilhões de dólares para a reconstrução política, econômica e social do país.

Nesses oito anos, porém, os governos de Lula e Dilma Rousseff reclamam que cumpriram à risca a sua parte, já os países ricos, nem tanto.

O resultado é que os níveis de violência caíram muito, principalmente na favela Cité Soleil, área mais crítica da capital Porto Príncipe, mas o Haiti continua sendo o país mais miserável das Américas, um caos econômico e social.

Com o terremoto de janeiro de 2010, a situação se deteriorou dramaticamente e a falta de infraestrutura se tornou o principal desafio.

Sem estradas, sem pontes, sem habitação, sem água, sem luz, com milhares de desabrigados, o Haiti ficou ainda mais distante da prometida "reconstrução".

Se a liderança do Brasil na América do Sul já era natural, se a ânsia pelo protagonismo mundial esmaeceu de Lula para Dilma e se a vaga no Conselho de Segurança nunca chegou, pelo menos o efeito prático é comemorado pelo governo.

Desde a primeira tropa, de 1.200 soldados, dezenas de milhares de militares já foram enviados ao país em sistema de rodízio e com um robusto reforço nos soldos. Eles recebem treinamento prévio para reprimir, mas também "interagir" com a população.

A preparação inclui teste e acompanhamento psicológico, especialmente depois do suicídio do general Urano Bacelar, então comandante da Minustah.

Foi com esse contingente treinado no Haiti que a Defesa contou para as operações de caráter policial -ou de "pacificação"- nas favelas cariocas. Quem atuou em Cité Soleil sabe bem como agir no Complexo do Alemão.

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