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Espanhóis temem ter de pagar por resgate

Economistas preveem que pacote provocará mais ajustes e atrasará ainda mais a retomada do crescimento

Premiê espanhol disse que medida é uma vitória de 'todos' e que sua política de cortes evitou um 'mal maior'

Daniel Ochoa de Olza/Associated Press
Espanholas batem panelas em protesto contra resgate bilionário aos bancos, em Madri
Espanholas batem panelas em protesto contra resgate bilionário aos bancos, em Madri

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

A desconfiança tomou conta da Espanha ontem, após o anúncio do plano de socorro financeiro aos bancos do país. Oposição, especialistas, agências de risco e cidadãos disseram temer que as contas do resgate recaiam sobre o Estado e os contribuintes. O governo negou.

Para recapitalizar seu setor bancário, o país anunciou que vai recorrer a uma linha de empréstimo europeia de até € 100 bilhões (R$ 254 bi).

Ontem, o premiê espanhol, Mariano Rajoy, que havia evitado declarações no anúncio do pacote, disse que se trata não de resgate ao país, mas de crédito para os bancos. Afirmou ainda que sua severa política de ajuste "evitou um mal maior".

"Se não tivéssemos feito nossos deveres nos últimos cinco meses, a intervenção teria sido ao reino da Espanha. Todos ganhamos", declarou o premiê, que foi duramente criticado por viajar à Polônia para acompanhar a estreia da seleção de futebol espanhola na Eurocopa.

Rajoy nega ainda que haverá pressão europeia por mais ajustes, mas fontes de Bruxelas afirmaram ao jornal "El País" que haverá fortes condições fiscais pela ajuda.

A oposição se mostrou pouco convencida e convocou Rajoy para depor no Congresso sobre o episódio.

"O governo quer nos fazer acreditar que ganhamos na loteria", disse ontem o líder da oposição, o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba, que pediu a criação de uma comissão no Parlamento para monitorar a injeção de dinheiro nos bancos.

Há quem veja sinais de que a Europa mostra unidade e o euro se fortalece com a medida. "É um sinal muito claro aos mercados que a zona do euro está disposta a tomar ações decisivas para acalmar as turbulências", disse o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn.

Mas economistas preveem que o resgate provocará mais ajustes e atrasará ainda mais a retomada do crescimento. O economista Carlos Granados calcula que a ajuda custará quase € 3.000 (R$ 7.600) para cada espanhol.

As agências de risco afirmaram que a medida pode trazer consequências negativas para a Espanha ante os mercados. Hoje, primeiro dia de funcionamento das Bolsas desde o anúncio, será um grande teste para o país.

PANELADAS

Ontem, pelas ruas de Madri e Barcelona, espanhóis se dividiam entre a raiva e a apatia ante o pedido de resgate, que poucos diziam entender por completo.

"No fim das contas, tenho certeza de que quem vai pagar por isso somos nós e nossos filhos", disse o engenheiro Mario Trajano, 58.

Na capital e também em Barcelona, centenas protestaram com panelas na mão contra o resgate.

Ainda que a medida garanta mais capital aos bancos, reascendeu o temor pelo congelamento de poupanças. "Vou fechar uma de minhas contas, não quero arriscar", disse Beatrice Hernández, 43.

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