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Análise

Por longo tempo, país continuará sendo um grande problema para a Europa

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO

Em seu primeiro discurso após ser eleito, em novembro do ano passado, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse que faria de tudo para seu país deixar de ser um problema para a Europa.

À época, a Espanha já tinha dificuldades de rolar sua dívida, os bancos estavam à beira da quebra e muitos diziam que nada seria resolvido sem ajuda externa.

Rajoy, do direitista Partido Popular, falava a uma população que havia derrotado os socialistas nas urnas e que misturava orgulho e temor.

Orgulho por a Espanha ter se transformado numa economia de peso dentro da Europa depois de um passado de pobreza; temor de voltar à antiga condição.

Sete meses depois, o pedido de até € 100 bilhões à União Europeia recoloca o país na segunda divisão da economia do continente, junto dos outros resgatados: Grécia, Irlanda e Portugal.

A Espanha era um dos países mais pobres da Europa no início do século 20. A Guerra Civil (1936-1939) e uma ditadura que fechou o país para o mundo só pioraram as coisas.

Resultado, milhões de pessoas emigraram em busca de um futuro na América Latina e no resto da Europa.

Nos anos 60 e no início dos 70, graças a uma maior abertura para investimentos e ao bom momento da economia mundial, teve seu milagre econômico e cresceu em média 6,6% ao ano.

Mas só passou mesmo a ter importância econômica global após a morte do ditador Francisco Franco, em 1975, que permitiu a redemocratização e a posterior entrada na União Europeia.

Houve muito investimento externo, e empresas espanholas ganharam o mundo.

A irresponsabilidade de bancos e a especulação imobiliária, porém, colocaram tudo a perder.

Como na Irlanda e nos EUA, a Espanha teve sua bolha imobiliária, e os preços dos imóveis subiram 190% entre 1997 e 2007. E ela estourou com a crise de 2008.

O governo adotou medidas de austeridade que ampliaram o desemprego (hoje em 24,3%, o maior da Europa) e frearam de vez a economia: o país está em recessão.

Apesar desse cenário, os fanáticos por austeridades acham que há luz no fim do túnel. Acreditam que os cortes de gastos ainda mais severos do governo Rajoy melhorarão as contas públicas e que a reforma trabalhista, com flexibilização de leis e consequente queda nos salários, dará ganho de produtividade às empresas, para que fiquem mais competitivas e possam exportar mais.

Ainda que dê certo, haverá um longo tempo. Até lá, Rajoy não conseguirá cumprir sua promessa de deixar de ser um problema, entre muitos outros, da Europa.

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