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Clóvis Rossi

A Europa e sua montanha-russa

Resgate à Espanha é só um pequeno passo, mas há um plano que pode frear a vertigem

A Europa vive em uma infernal montanha-russa, em que os raros momentos de subida não chegam a compensar as vertiginosas quedas. Assim, o alívio pelo resgate dos bancos espanhóis, anunciado no fim de semana, não durou mais que um suspiro.

Logo vieram as dúvidas sobre o alcance e os detalhes da medida e, pior, a lembrança da próxima e iminente descida vertiginosa, representada pelas eleições de domingo na Grécia.

Para a saúde mental do leitor (e minha), convém descer um pouco da montanha-russa para pensar em fatos e não nas especulações dos mercados, que fazem a Bolsa subir num momento para cair no outro.

Assim, é importante deixar claro que o resgate da banca espanhola foi um passo indispensável. Não adotá-lo, no momento em que foi anunciado, seria precipitar os carrinhos da montanha-russa no absoluto vazio. A pergunta seguinte é óbvia: o indispensável é suficiente?

Fico com a resposta de Howard Davies no "Financial Times", porque ele tem experiência nos dois lados do balcão (foi vice-presidente do Banco da Inglaterra e depois diretor da London School of Economics) e dos dois lados do canal da Mancha (agora é professor na Science Po de Paris):

"Alguém no planeta pensa que os problemas que cercam a credibilidade do euro foram resolvidos por essa ação de emergência? Algum investidor d'além-mar acredita que uma esquina foi dobrada, quando o governo alemão continua a se opor à mutualização da dívida?".

Entenda-se por mutualização da dívida, na teoria, que todos os países do euro passam a ser responsáveis por honrar a dívida de cada um e todos eles. Na prática, sejamos francos, significa que a Alemanha (e, em menor medida, a França) acabará ficando com a parte principal dos micos que vierem a surgir.

Vale acrescentar uma frase do economista espanhol Emílio Ontiveros, embora óbvia: "Sem crescimento econômico, não se pagam as dívidas -e, a partir de sábado, estas são maiores" (alusão ao fato que os € 100 bilhões de socorro à banca espanhola serão somados à dívida do país).

Até aí, a vertigem da descida. Agora, uma pausa para uma eventual luz no fim do túnel: a revista "Der Spiegel" informa que os dirigentes europeus trabalham em um plano abrangente de salvação do euro, que inclui a tal mutualização da dívida, cobrada por Howard Davies (e, antes dele, pelo presidente francês, François Hollande).

O projeto em elaboração prevê uma "verdadeira união orçamentária, nos termos da qual os diferentes países-membros não poderiam emitir novas dívidas independentemente uns dos outros". Teriam autonomia para decidir como gastar apenas o que arrecadam.

Para outras necessidades de financiamento, teriam que recorrer a um presidente em tempo integral do Eurogrupo (formado pelos 17 países que usam o euro), que acabaria por se transformar em ministro de Finanças da Europa (ou, ao menos, da zona do euro).

Pode não resolver todos os problemas, mas ao menos reduziria a vertigem provocada pelas violentas descidas da montanha-russa. A ver se pega.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Matias Spektor

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