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Não há solução militar possível, diz 'pai' da intervenção humanitária

DE JERUSALÉM

Não é fácil para Gareth Evans admitir a impotência da comunidade internacional diante dos relatos de massacres em série na Síria.

Evans, 67, é um dos pais da doutrina de intervenção humanitária adotada pela ONU em 2005. Foi uma tentativa de criar o consenso que faltou para conter as atrocidades de Ruanda e Bósnia, na década anterior.

Mas a violência desenfreada na Síria e os sinais de que o país caminha para uma longa guerra sectária, reconhece Evans, mostram que não há respostas simples.

"A situação é muito perturbadora, mas não vejo opção militar", diz Evans, temendo que uma intervenção inflame ainda mais o conflito.

A chave, afirma o ex-chanceler da Austrália, é pôr "pressão máxima" sobre a Rússia, segundo ele o único país que pode forçar o regime sírio a fazer concessões.

O Brasil pode ser um instrumento de peso nessa pressão, diz Evans, mas para isso o país precisa exercer a "liderança moral" no Brics "que o mundo espera" dele.

(MARCELO NINIO)

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Folha - É o caso de uma intervenção militar na Síria?

Gareth Evans - Acho que pioraria a situação na Síria. É uma triste conclusão, porque ela está ficando incontrolável. Uma grande guerra civil, sabemos de experiências passadas, causaria luto e dor muito além do que já vimos.

A situação é muito perturbadora e não vejo uma opção militar, mesmo que forças internacionais pudessem ser mobilizadas, algo que parece extremamente problemático.

Qual a saída?

A questão crucial é fazer com que o regime Assad cumpra o plano de seis pontos [da ONU]. O único ator diplomático capaz de conseguir isso é a Rússia. É fundamental manter máxima pressão internacional sobre Moscou, para que pressione o regime.

Qual o cálculo de Moscou?

O cálculo imediato é, obviamente, realismo político e geoestratégico. A Síria é o único aliado importante de Moscou na região. A Rússia tem uma importante base naval na Síria e interesse como fornecedor de armas. Nada com uma dimensão remotamente moral. É a tradicional política linha-dura, do tipo que, infelizmente, Vladimir Putin continua a abraçar.

Como o sr. vê a atitude do Brasil?

Eu espero que o governo brasileiro reconsidere sua atitude e se junte ao grande número de países que expressaram sua repugnância ao regime Assad expulsando diplomatas sírios.

Não posso acreditar que o Brasil tenha dúvida sobre quem é o responsável pelos recentes massacres. A pressão diplomática é o único instrumento disponível para parar essa catástrofe.

Como parte do Brics, o Brasil tem meios de pressionar Rússia e China. Há espaço de sobra para desacordo no Brics em temas de direitos humanos, mas torço para que o Brasil exerça a liderança moral que o mundo espera.

Entre os países que apoiam os rebeldes também há interesses geopolíticos. Isso é mais um obstáculo para uma intervenção militar?

É um problema. Um dos critérios para a aplicação da força militar [na doutrina da ONU] é a intenção dos que a aplicam. É para proteger civis ou há outros objetivos?

Neste caso, claramente há outra agenda por parte da Arábia Saudita e do Qatar, países mais dispostos a dar apoio militar à oposição. Por trás disso há motivações sectárias e anti-Irã. Isso por si só não é um obstáculo [para uma ação], mas é um fator complicador. E o que torna tudo mais complicado é o fato de a oposição síria estar tão dividida, de elementos moderados a islamitas radicais.

FOLHA.com

Leia a íntegra folha.com/no1103652

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