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Vice-presidente da Bolívia ataca Brasil por asilo a opositor

García Linera, que ocupa interinamente a Presidência, diz que decisão sobre senador Roger Pinto é 'desatinada'

Senador, que diz sofrer perseguição, é acusado de crime comum, alega vice; Itamaraty não quis comentar a fala

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, classificou de "desatinada" a decisão do governo brasileiro de dar asilo político ao senador boliviano Roger Pinto.

Opositor do governo de Evo Morales, a quem acusa de perseguição política, Pinto está refugiado na Embaixada do Brasil em La Paz, capital boliviana, há duas semanas.

"Considero desatinada a decisão do Brasil de dar asilo a uma pessoa que, aqui na Bolívia, não é acusada por suas ideias, e sim por crimes comuns", disse García Linera -que ocupa interinamente a Presidência boliviana enquanto Evo está na Europa- em entrevista coletiva ontem.

Segundo o vice-presidente, Pinto responde a acusações de "assassinato", por sua alegada responsabilidade em um massacre de camponeses ocorrido em 2008 em Pando -departamento (equivalente a Estado) do senador-, de "prejuízo econômico ao Estado" e de malversação de recursos públicos.

Em carta divulgada na época de seu pedido de asilo, Pinto havia atribuído os processos que sofre à perseguição do governo -de acordo com ele, são "mais de 20 processos penais, cada um mais absurdo que o outro".

Desde que Evo Morales assumiu a Presidência, em 2006, empresários e políticos de oposição se mudaram para países como Brasil, EUA, Paraguai, Peru e Espanha alegando perseguição política e dizendo que não teriam julgamento justo na Bolívia.

A saída de Pinto da embaixada ainda depende de que La Paz conceda salvo-conduto para que ele venha ao Brasil. Questionado sobre isso, García Linera disse se tratar de "um procedimento que está nas mãos da Chancelaria".

O Ministério das Relações Exteriores boliviano voltou a dizer que não recebeu nenhuma comunicação oficial do Itamaraty sobre a concessão de asilo ao senador Pinto.

REAÇÃO BRASILEIRA

Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, Tovar Nunes, "o Itamaraty não costuma comentar esse tipo de declaração". "Nós vimos o que o vice-presidente disse e achamos que o governo boliviano tem o direito de fazer esse tipo de comentário", afirmou.

De acordo com Nunes, conceder asilo ao senador não implica nenhum tipo de julgamento sobre assuntos internos da Bolívia. "Ele corresponde ao substrato da nossa Constituição e às normas do direito internacional."

O porta-voz do Itamaraty disse ainda que o Brasil tem mantido contato com autoridades bolivianas e que o chanceler Antonio Patriota conversou recentemente com o vice-ministro da Bolívia.

No fim de semana, a Chancelaria brasileira tinha dito que a negociação com a Bolívia sobre o pedido de asilo do senador Pinto havia sido "fluida" e sem obstáculos.

Colaborou KELLY MATOS, de Brasília

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