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Matias Spektor

Centros de pensamento do G20

A globalização diluiu os contornos da divisão Norte/Sul porque gerou novas formas de convergência

Na semana passada, a Universidade da Pensilvânia e a Fundação Getulio Vargas patrocinaram o primeiro encontro de grandes centros de pensamento dos países do G20.

Durante três dias, os chamados "think tanks" discutiram os principais pontos da agenda internacional contemporânea.

A reunião foi dominada por Irã e Síria. O debate sobre o Irã foi desalentador. Uns apostam que o regime em Teerã avançará em direção a um explosivo nuclear no futuro próximo, enquanto outros acreditam que o regime buscará toda a tecnologia para fazer um explosivo, mas não chegará a montá-lo (alavancando, assim, sua posição em negociações futuras).

Ninguém acredita na reversão do programa nuclear iraniano.

Uns e outros veem o embargo contra o Irã como contraproducente: há dez anos, o país tinha poucas centrífugas, nenhum urânio enriquecido e conhecimento científico limitado. Hoje, apesar do embargo, conta com mais de 10 mil centrífugas, milhares de quilos de urânio enriquecido e também conhecimento avançado sobre o ciclo do combustível nuclear.

Nenhum dos participantes acredita que os EUA possam resolver o problema. A eleição presidencial que se aproxima e o Congresso nas mãos da oposição limitam o espaço de manobra de Obama.

O debate não foi mais otimista em relação à Síria. As alternativas discutidas foram a continuação do massacre perpetrado pelo regime em Damasco ou, alternativamente, uma intervenção estrangeira de resultado incerto.

Uma minoria manifestou esperança na Rússia. Até agora, o governo de Moscou protegeu o regime de Bashar Assad porque isso ajuda a manter a influência russa sobre o país. Entretanto, isso apenas é factível se Assad tiver força. Se o regime em Damasco ficar enfraquecido, então passará a ser um estorvo para Moscou. Segundo essa perspectiva minoritária, a cada dia é mais factível imaginar que a Rússia vá liderar um processo de transição negociada.

O encontro dos centros de pensamento foi preocupante. Seus representantes concluíram que não há entre eles uma conversa verdadeiramente global sobre os rumos da política internacional. Mais que diálogo, o que existe é uma superposição de monólogos.

Também há um risco crescente de divisão entre as perspectivas do Norte e as do Sul. Nas décadas de 70 e 80, o embate entre Norte e Sul dificultou a gestão de graves crises internacionais nas áreas de energia, proliferação nuclear e finanças.

Durante os anos 90, a globalização diluiu os contornos dessa divisão porque gerou novas formas de convergência, possibilitando a própria criação do G20 como foro de governança econômica global.

Hoje, um novo choque entre Norte e Sul ameaça trazer rigidez à diplomacia entre as principais potências do sistema internacional na hora em que ela mais demanda flexibilidade e nuance.

O fosso entre Norte e Sul é particularmente ruim para o Brasil. Por ser um dos poucos países que albergam ambos os polos no seio de sua própria sociedade, sua atuação internacional tem alguma chance de êxito quando a distância entre ambos é ao menos navegável.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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