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Brasil dá asilo a 'delinquente', diz Morales

Presidente boliviano qualifica de 'equivocada' a decisão brasileira de proteger o senador oposicionista Roger Pinto

Mandatário enviará a Brasília documentos sobre processos; Itamaraty afirma que não reverterá decisão

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou ontem que o Brasil se equivoca ao conceder asilo político ao senador Roger Pinto, a quem classificou de "delinquente político", e anunciou que enviará a Brasília documentos sobre as denúncias que correm na Justiça boliviana contra o parlamentar.

Opositor de Morales, a quem acusa de perseguição política, Pinto está refugiado na Embaixada do Brasil em La Paz há duas semanas. Sua saída depende de que o governo boliviano conceda salvo-conduto para que ele venha ao Brasil.

"Vamos tratar de passar alguma documentação às altas autoridades do governo do Brasil, para que possam avaliar essa situação, em que estão implicados muitos temas judiciais e penais", disse Morales em coletiva em La Paz.

O presidente afirmou ainda que quem tenta fugir para outro país é porque sabe que cometeu delitos.

Na véspera, o vice-presidente Álvaro García Linera já havia qualificado a decisão brasileira de "desatinada".

Ontem, o Itamaraty informou que, apesar das declarações de Morales, não irá reverter a decisão.

"Não está em consideração a revisão dessa decisão. Sobretudo porque a nossa opção não representa nenhum juízo de valor sobre a posição do governo boliviano. A nossa decisão foi soberana, baseada em lei", afirmou à Folha o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes.

Segundo as autoridades bolivianas, Pinto responde a 21 processos por acusações de desacato, corrupção e assassinato -segundo o senador, "um mais absurdo que o outro" (veja nesta página).

Opositores ao governo e grupos de direitos humanos acusam Morales de controlar o Judiciário, impedindo processos justos e imparciais, e de perseguir dissidentes.

"[As acusações] são armações para tirá-lo [Pinto] do cenário político. Não há Justiça independente para que o senador, ou qualquer cidadão que discorde do governo, possa provar sua inocência. No sistema penal boliviano, presume-se a culpabilidade", disse à Folha a senadora Jeanine Añez, da Convergência Nacional, partido de Pinto.

Anteontem, um grupo de cerca de 20 ativistas fez um protesto diante da embaixada do Brasil em La Paz contra a concessão do asilo.

O senador vive com restrições para movimentar-se, receber visitas e fazer ou receber telefonemas. Desde que se refugiou na embaixada, não toma banho e dorme num sofá.

"É um escritório confortável, mas é um escritório, não é uma casa", disse à Folha seu advogado, Luís Vasquez. "Mas ele está muito agradecido pelo apoio recebido."

Colaboraram CAROLINA VILA-NOVA, de São Paulo, e a Sucursal de Brasília

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