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Junta Militar egípcia assume Legislativo

Supremo Tribunal anula eleições parlamentares e aumenta a tensão na antevéspera de eleições presidenciais

Decisão judicial contraria a Irmandade Muçulmana, que tenta eleger presidente do país no segundo turno

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Numa ação que cria novas dúvidas sobre a conturbada transição democrática no país, a Junta Militar do Egito assumiu ontem o Poder Legislativo, depois que a Suprema Corte decretou a dissolução do Parlamento.

A decisão, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, que começa amanhã, agrava o clima de confronto e polariza ainda mais o país entre islamitas e as forças do antigo regime.

Revoltados com o que consideraram um golpe para perpetuar a ditadura militar, manifestantes entraram em choque com forças de segurança em frente à corte.

À noite, centenas de pessoas se reuniram na praça Tahrir, epicentro dos protestos que levaram à queda de Hosni Mubarak, produzindo uma cacofonia de angústia e frustração.

"Foi mais um golpe dos militares", dizia o contador Samy Hamdi, 28, em um dos muitos grupos de discussão formados na praça. "Nosso maior erro foi não ter ficado na Tahrir até que os militares deixassem o poder. A revolução agora recomeça do zero."

O Supremo Tribunal Constitucional (corte máxima do país) justificou a dissolução do Parlamento afirmando que as eleições legislativas do início do ano, em que partidos islamitas conquistaram 70% das cadeiras, foram inconstitucionais.

A alegação é que houve violação da regra eleitoral de que um terço das cadeiras deveria ter sido ocupado por candidatos independentes. Na prática, boa parte deles era filiada à coligação da Irmandade Muçulmana.

O Parlamento dissolvido era responsável por escrever uma nova Constituição, que agora tem futuro incerto.

Em outra decisão que enfureceu os manifestantes, a corte aprovou a candidatura presidencial de Ahmed Shafiq, último premiê de Mubarak, rejeitando a lei que bania membros do antigo regime da política por dez anos.

Após sair de décadas na ilegalidade e conquistar quase metade do Legislativo, tornando-se a principal força política do país, a Irmandade vê seu poder ameaçado.

"O país entra num túnel escuro, pois o próximo presidente assumirá sem Parlamento ou Constituição", disse o vice-presidente da Irmandade, Essam el Erian.

Apesar da frustração, o candidato da Irmandade, Mohamed Mursi, disse que irá respeitar a decisão.

Indicado por Mubarak, o Supremo é visto como simpatizante do antigo regime. Isso reforça a suspeita de que houve motivação política.

"A decisão lembra a Argélia de 1991", disse o historiador Khaled Fahmy, em referência ao golpe militar que impediu a chegada ao poder dos islamitas.

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