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Em campo de golfe, ex-premiê festeja decisão

Aliado de ex-ditador, Ahmed Shafiq encerra campanha longe da praça Tahrir, centro de manifestações populares

Em discurso, candidato dá recado à Irmandade Muçulmana; ativistas prometem votar em islamita como protesto

DO ENVIADO AO CAIRO

Foi no ambiente esterilizado de um hotel cinco estrelas, condizente com sua imagem de candidato da elite, que Ahmed Shafiq fez ontem o seu último comício no Cairo antes da eleição presidencial.

Longe da barulhenta praça Tahrir, sob uma tenda branca montada no impecável gramado de um campo de golfe, uma plateia bem vestida e comportada aplaudiu a decisão do Supremo que manteve a candidatura do ex-premiê de Mubarak.

"Terminou a era dos acertos de contas, das leis com motivações pessoais e do uso das instituições para alcançar metas pessoais", disse Shafiq, 70, trajando terno es-curo e sem gravata.

Era um recado à Irmandade Muçulmana, adversário de Shafiq no segundo turno da eleição, que liderou no Parlamento a aprovação da lei que bania da vida política ex-membros do antigo regime.

Com o caminho aberto para disputar a cadeira que Mubarak ocupou por 30 anos, Shafiq foi beneficiado diretamente pela decisão do Supremo de anular a lei.

Mas a vitória pode ser passageira. O ex-chefe da Força Aérea enfrentará nas urnas a fúria da oposição a Mubarak, que promete apoiar o candidato da Irmandade, Mohamed Mursi, para evitar um militar na Presidência.

Apesar de abominarem a ideia de um regime islâmico, muitos ativistas pró-democracia que lideraram a revolta contra Mubarak prometem apoiar Mursi num voto de protesto contra os "feloul", como são chamados pejorativamente os remanescentes da velha ordem.

Entre os comportados simpatizantes de Shafiq que acompanharam seu discurso em cadeiras com forro de veludo havia religiosos, que não viam contradição em apoiar um candidato secular.

"Voto em Shafiq porque aposto na experiência", disse a relações-públicas Rabab Kalet, 30, cabeça coberta pelo lenço muçulmano. "Nosso país não é só religião."

Experiência e capacidade de restaurar a ordem, qualidades marteladas por Shafiq na campanha, são os argumentos mais ouvidos entre seus eleitores. Mas há o temor indisfarçado de um presidente de tendência islamita.

"A Irmandade mente quando diz que apoia a revolução", acusa o administrador de empresas Aladin Hamed, 60. "Nunca foram democráticos, por que começariam agora?" (MARCELO NINIO)

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