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Economista vê vantagem na Grécia fora do euro

Para o alemão Benjamin Born, saída seria gerenciável e ajudaria o país a se recuperar

CAROLINA VILA-NOVA
DE SÃO PAULO

Uma saída ordenada da Grécia da zona do euro não apenas seria gerenciável, mas ajudaria o país a se recuperar mais rapidamente da crise.

A avaliação, na contramão de previsões majoritariamente catastróficas, é do economista alemão Benjamin Born, do prestigiado Instituto de Pesquisa Econômica e autor de estudo sobre o tema.

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Folha - Os principais partidos da Grécia defendem renegociar o programa de austeridade ou abandoná-lo. Isso equivale a sair do euro?

Benjamin Born - Penso que sim, mas autoridades emitem sinais de que há possibilidade de renegociação, então não se está 100% certo disso.

O banco central alemão disse que a saída da Grécia seria gerenciável. O sr. concorda?

Nosso relatório chega à mesma conclusão. Eventos históricos mostram que é gerenciável. O que é importante é que seja realizado de maneira ordenada. E tenho dúvidas se, após as eleições, haverá um governo capaz disso.

Muitos argumentam que a confiança na UE seria abalada se houver a possibilidade de um membro ser excluído caso tenha problemas.

Claro, os mercados podem antecipar que o mesmo vá acontecer com outros. Mas o Banco Central Europeu e outras instituições precisam demonstrar que estão dispostos a defender esses países.

Por outro lado, qual é a alternativa? Parece claro que a Grécia não consegue realizar as reformas necessárias e não tem competitividade para uma desvalorização interna.

Em termos técnicos, como seria a saída da Grécia?

Uma saída ordenada implicaria um recesso bancário, a imposição de controle de capitais para que o dinheiro não saia do país e a conversão de todas as contas bancárias para a nova moeda, seja novo dracma ou que outro nome tenha. Isso significa que o Parlamento teria de se reunir no fim de semana e aprovar uma lei sobre a nova moeda.

As cédulas em circulação terão de receber um carimbo da nova moeda. Depois da implementação, aos poucos o país poderá relaxar os controles de capitais, para que ela volte a circular nos mercados. Provavelmente a nova moeda se desvalorizará em torno de 50% ante o euro. A fuga de capitais não deve ser significativa; boa parte já saiu.

Seu estudo sugere que a Grécia se recuperaria mais rápido da crise se abandonasse o euro. Como o sr. explica isso?

Nos últimos anos, a Grécia não conseguiu aumentar sua competitividade. Os preços ainda são altos e os salários não baixaram tanto, uma vez que os sindicatos são fortes lá. Pensamos que, ao abandonar o euro e adotar uma nova moeda que se depreciaria em torno de 50%, eles obteriam essa competitividade.

Claro que haveria um choque inicial, com o sistema bancário em colapso e muitas empresas falindo por não conseguirem pagar dívidas em euro. Mas, depois desse período, eles ganharão em competitividade, e a desvalorização beneficiará suas exportações. A Argentina, por exemplo, depois de um ano já estava crescendo.

Como evitar o contágio?

O risco maior é para Portugal, mas, com sorte, os novos mecanismos implementados pela UE irão impedir o contágio por toda a zona do euro.

É realmente uma questão de que o BCE demonstre estar disposto a defender esses países. Mas claro que há o perigo, e é parte dos riscos de uma saída da Grécia.

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