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Análise Votação grega

Eleição que impeça formar um governo estável é pior cenário

Custo de manter a Grécia no euro será, de longe, menor que o de um default total

Louisa Gouliamaki/France Presse
Militantes do Nova Democracia durante comício em Atenas
Militantes do Nova Democracia durante comício em Atenas

GIORGIO ROMANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto no Rio se discute como o mundo pode se preparar para o futuro em médio/longo prazo, a Europa permanece refém da conjuntura atual, o que a impede de olhar para o longo prazo. O horizonte colocado por George Soros é de três meses; para Christine Lagarde, até menos. No final de junho, haverá mais uma "decisiva" cúpula da União Europeia.

Na Espanha, um socorro bancário de € 100 bilhões não gerou a tranquilidade esperada. O custo da rolagem das dívidas espanhola e italiana foi a níveis insustentáveis. A modesta recuperação de confiança com a injeção de cerca de € 1 trilhão pelo Banco Central Europeu já se desfez.

Nesse cenário, os mercados ficam horrorizados com uma possível vitória de Alexis Tsipras e sua coalizão de grupos esquerdistas (Syriza). Se a Grécia tivesse eleições presidenciais, ele seria sem dúvida o grande favorito.

Não se trata só de reação à austeridade imposta pela troica (BCE, União Europeia e FMI). O discurso de Tsipras representa uma possibilidade de resgate da dignidade dos gregos contra o sentimento de humilhação nacional.

A impressão de que a Grécia não estaria se esforçando para merecer a bilionária ajudas é falsa. O país reduziu seu deficit primário de 10,4% em 2009 para 2,2% em 2011, fruto de um esforço fiscal brutal de alto custo social, em particular para o desemprego, que subiu de 7% antes da crise para 22,6%. Mas é impossível atingir as metas em situação de profunda recessão.

No clima de incertezas gerado após o primeiro turno, quando os responsáveis pelas negociações com a troica foram derrotados, a situação piorou mais ainda, tornando de qualquer forma inevitável a renegociação dos termos dos acordos de resgate.

A pressão direta sobre o eleitorado grego por parte da troica e do mercado sugere que uma vitória de Tsipras inviabilizaria essa negociação. Há uma ameaça explícita para interromper os aportes, o que levaria imediatamente a um default e à interrupção de pagamentos internos, radicalizando o conflito social.

Porém Tsipras alega que a UE precisa tanto da Grécia quanto a Grécia dela e que, no frigir dos ovos, a UE não teria a coragem de interromper a ajuda -haveria consequências imensuráveis, comparáveis à decisão de deixar quebrar o Lehman Brothers.

Não por acaso Tsipras publicou no "Financial Times" o artigo "Eu vou manter a Grécia na zona do euro". O custo dessa manutenção, mesmo com a renegociação do acordo, seria de longe menor que o de provocar um default total. O pior cenário, na verdade, é um resultado eleitoral que impeça a formação de qualquer governo estável.

GIORGIO ROMANO SCHUTTE é coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal
do ABC (UFABC).

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