Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Egito tem dia tenso com protesto e boato de morte de ex-ditador

Islamitas lotam praça para pressionar militares em meio a notícia, depois negada, de morte de Mubarak

Irmandade quer que seu candidato seja declarado vencedor de eleição presidencial; anúncio sairá amanhã

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Em um dia marcado pela notícia, depois negada, da morte de Hosni Mubarak, islamitas deram uma demonstração de força, lotando a praça Tahrir, no Cairo, símbolo dos protestos que derrubaram o ex-ditador.

Milhares de pessoas atenderam à convocação de opositores do antigo regime para protestar contra os recentes decretos que ampliam os poderes da Junta Militar e enfraquecem os do presidente eleito nesta semana.

O protesto foi um dos maiores desde a renúncia de Mubarak, em fevereiro de 2011, e se misturaram à celebração pela suposta eleição para presidente do candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi.

Segundo apuração extraoficial, Mursi chegou na frente do ex-militar Ahmed Shafiq, último premiê de Mubarak. Mas o resultado oficial só deve ser divulgado amanhã, e Shafiq não admite derrota.

Já era quase meia-noite no Cairo (19h de Brasília), quando surgiram as notícias sobre a "morte clínica" de Mubarak. "Não acredito em nada mais do que falam, acho que divulgaram isso para esvaziar a praça", disse Ahmed Adil, 25, funcionário de uma empresa de telefonia.

"Mas se for verdade não faz diferença. Mubarak já caiu, nosso inimigo é a Junta", afirmou Adil.

NOTÍCIAS CONFLITANTES

A notícia sobre a "morte" do ex-ditador foi primeiro divulgada pela agência estatal egípcia Mena.

Foi imediatamente replicada pela imprensa mundial, até ser negada pelo próprio governo do Egito.

Fontes ligadas ao Ministério do Interior e à família de Mubarak disseram à rede de televisão árabe Al Jazeera que, após ter tido um ataque cardíaco, o ex-ditador foi revivido e respira com auxílio de aparelhos.

Em seguida, seu advogado afirmou que na verdade Hosni Mubarak estaria em coma.

Aos 84 anos de idade, o ex-ditador tem a saúde fragilizada desde que foi deposto do poder por manifestações populares.

Ele foi então julgado dentro de uma jaula, deitado em uma maca, e em seguida condenado à prisão perpétua.

Funcionários penitenciários afirmam que ele tem tido pressão alta e passa por dificuldades para respirar, além de ter depressão profunda.

Após a deterioração de sua saúde, Mubarak foi transferido ontem da prisão de Torah, em que estava detido, para o hospital Maadi no Cairo.

MARCHA DO MILHÃO

Embora a manifestação de ontem tenha sido apoiada por movimentos liberais, a grande maioria dos manifestantes era de simpatizantes de partidos islamitas.

Além de seguidores da Irmandade Muçulmana, havia na multidão muitos salafistas (muçulmanos ultraconservadores), que foram à praça festejar o que lhes parecia impensável há 16 meses: o primeiro presidente islamita da história do Egito.

"Sonhamos com isso a vida inteira", disse o urologista Abdullah Makhlouf, 38, empunhando uma bandeira do Egito, sem importar-se com o fato de que a eleição de Mursi ainda não é oficial.

"A Irmandade não mente. Se eles declararam vitória, é fato consumado."

Convocada como "a marcha do milhão", a manifestação ficou longe da meta. Ainda assim produziu um mar de gente na praça Tahrir, que ecoou durante mais de cinco horas palavras de ordem contra a Junta Militar.

"Sua hora está chegando. No dia 30 de junho vocês sairão de nossas vidas para sempre", gritava um jovem erguido pela multidão, lembrando a data em que os militares prometeram transferir o governo ao presidente eleito.

Mas o decreto baixado pelos militares pouco após o encerramento da votação, domingo, significa que a Junta assume o Legislativo e esvazia as prerrogativas do novo presidente, como a segurança interna e a aprovação do orçamento militar.

Com agências de notícias

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.