Dilma 'adapta' Nelson Rodrigues em explicação da crise mundial

A presidente Dilma Rousseff jogou Nelson Rodrigues (1912-1980) como a única saída para a crise internacional, que, como ela admite, "está chegando a todo o mundo": invocou o Sobrenatural de Almeida, personagem do teatrólogo, para afirmar que o que vai resolver a crise é o "Inexorável da Silveira".

"Vocês se lembram do Nelson Rodrigues. Tinha um personagem chamado Sobrenatural de Almeida. Sabe o que eu acho? Existe um personagem que chamo de Inexorável da Silveira. As coisas não são do jeito que queremos."

Ficções à parte, o que Dilma quis dizer é que o "inexorável" avanço da crise forçará solução, porque todo o verbo dos governantes já foi gasto em sucessivas cúpulas do G20 sem que houvesse alívio, especialmente na Europa.

A presidente mostrou-se compreensiva com os europeus, após criticá-los desde que assumiu, pela incapacidade de adotar programas de crescimento. Dilma não é contra a disciplina fiscal, regra de ouro na Europa, mas a considera insuficiente.

"Eu entendo a complexidade do problema. Não é fácil resolvê-lo quando não há um Estado supranacional por trás do euro", disse. Por causa dessa lacuna, "quando há crise, os problemas aparecem de forma aguda", afirmou.

Repetiu a tese que passou a ser esgrimida por, entre outros, o presidente francês, François Hollande, e o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy: é preciso separar a dívida dos bancos da dos Estados, sob pena de países como a Espanha pagarem preço abusivo para rolar a dívida, moderada, porque seus bancos estão atolados.

Dilma acha que o G20 fez tudo o que podia fazer no debate da crise: "Agora depende de uma solução interna [da eurozona]".

No seu encontro de ontem com a chanceler Angela Merkel, Dilma viu "grande preocupação" com a crise e o peso que recai sobre a Alemanha, mas também "grande determinação" de resolvê-la.

Dilma só espera que a solução venha "no tempo certo, mas o tempo certo não é a gente que impõe". Aí é que entra o "Inexorável da Silveira", um fantasma que, como Sobrenatural de Almeida, marca gols improváveis. (CR)