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'Salto tecnológico chinês ainda é incerto'

Para James Fallows, atual sistema impede o desenvolvimento de universidades e centros de pesquisa e mina "soft power"

Em livro, escritor avalia que modelo compromete meta de subir posições na economia mundial

David Gray - 18.jun/Reuters
Chineses passam diante de cartaz com imagens do recente o lançamento espacial feito pelo país, no centro de Pequim
Chineses passam diante de cartaz com imagens do recente o lançamento espacial feito pelo país, no centro de Pequim

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Piloto amador e escritor radicado na China, o americano James Fallows encontrou na incipiente e ambiciosa indústria da aviação a melhor metáfora para ilustrar os percalços da ascensão do país.

No recém-lançado livro "China Airborne" (China aerotransportada), ele narra os esforços do governo para criar competidores à altura do Boeing e da Embraer que, apenas na cidade de Xian, empregam 250 mil pessoas.

Mas a meta chinesa de subir posições na economia mundial, avalia Fallows, enfrenta obstáculos dentro do próprio sistema, como preocupações excessivas com segurança e o ambiente pouco convidativo para talentos mundiais.

"A China é rigidamente controlada e fora de controle; é futurista e atrasada; seu sistema é ao mesmo tempo sólido e incerto. Seus líderes são habilidosos e atrapalhados, flexíveis e teimosos, visionários e estupidamente míopes", escreveu.

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Folha - O que a indústria aeroespacial revela sobre os avanços e as limitações do modelo chinês?

James Fallows - O milagre econômico chinês dos últimos 30 anos está baseado no sucesso fenomenal em um número limitado de áreas. Especificamente: manufatura com mão de obra barata, especialmente como centro de terceirização para empresas da América do Norte, da Europa e do Japão; desenvolvimento interno de infraestrutura; e a construção contínua de prédios residenciais e de negócios.

Essas três áreas criaram centenas de milhões de empregos para os chineses que vêm deixando a pobreza rural rumo às cidades. Mas trouxeram a possibilidade de deixar a China numa "armadilha da renda baixa", já que não criaram muitos dos empregos corporativos de maior ganho que acompanham marcas famosas -Apple, Google, Mercedes ou Embraer. O esforço para o sucesso no aeroespaço é parte de um esforço coordenado para ajudar a China a ser bem-sucedida nas indústrias de alto valor: farmacêutica, energia limpa, tecnologia da informação e aeroespaço.

No atual sistema político, é possível para a China criar institutos de pesquisas e universidades de ponta?

Universidades e centros de pesquisas podem verdadeiramente ser de primeira classe apenas se as pessoas mais talentosas de todo o mundo acreditarem que possam fazer seu melhor trabalho lá.

Não é o caso das instituições chinesas agora. Controles sobre a mídia e outras formas de expressão pública, censura da internet, poluição e qualidade de vida nas grandes cidades e a tradição chinesa de memorização no aprendizado -todas essas coisas têm feito com que pesquisadores ambiciosos prefiram ir a outros lugares para fazer a sua melhor pesquisa.

No debate sobre se o crescente poder da China mudará o sistema internacional ou se a prosperidade da sua população levará a mudanças no regime, qual é a sua posição?

Uma coisa de que estou seguro é que é impossível ter certeza sobre o resultado de qualquer das tendências em andamento neste momento. Isso pode soar evasivo, mas acho que é realmente um reconhecimento de quão poderosas, contraditórias e desconhecidas são as forças em jogo para determinar o futuro do país.

Isso se aplica para o alcance da capacidade chinesa para moldar o mundo externo, ou de ser moldada por ele. Eu me inclino para o argumento de que as práticas internas da China serão eventualmente mudadas para se adequar aos padrões de fora, mais do que o contrário.

Como explico no livro, foi sempre uma ideia simplista pensar que a China se tornará mais "democrática" em termos de estrutura política à medida que prospere. Mas acho que há sinais mais fortes em dois pontos. Individualmente, os chineses querem muitas das liberdades que as pessoas em outras sociedades economicamente desenvolvidas veem como naturais: condições para viajar, para se expressar e de ter escolhas amplas sobre o que fazer com suas vidas.

Em segundo lugar, a menos que o governo continue a expandir as liberdades internas, enfrentará limites para o progresso do país. Portanto, eu me inclino na direção do veredicto de que a China continuará a liberalizar-se, embora, novamente, enfatizo que uma grande variedade de finais é possível.

Leia íntegra da entrevista

folha.com/no1107234

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