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Clóvis Rossi

'Timings', de mercados e governos

Obama vê encruzilhada: a impaciência dos mercados atropela a inexorável lentidão das democracias

LOS CABOS, MÉXICO - Sem o pretender, o presidente Barack Obama produziu uma perfeita súmula de como funciona a encruzilhada em que se encontra a economia mundial:

"Eu sempre mostro grande simpatia por meus amigos europeus porque eles não têm de lidar com apenas um Congresso; têm de lidar com 17 Parlamentos, se estamos falando da eurozona, ou 27, se estamos falando da União Europeia".

Corolário: "Isso significa que às vezes, mesmo depois que conceberam os enfoques para enfrentar a crise, eles têm de trabalhar através de todo o processo político para vê-lo executado. E os mercados são um bocado mais impacientes".

Bingo, presidente.

Não apenas na Europa, mas no mundo todo, o "timing" com que operam mercados e governos é diferente: os governos chegam invariavelmente depois.

Basta lembrar como foi a origem da crise que agora vive o seu segundo capítulo, com epicentro na Europa. Começou quando os mercados, com a velocidade que os caracteriza, inventaram a tal "bolha imobiliária", ante a inércia dos governos. Quando ela estourou e instalou-se a crise, os governos correram atrás.

O G20 pôs sobre a mesa impressionante US$ 1,1 trilhão para conter a crise, boa parte dele para salvar a banca inviabilizada por suas aventuras.

Funcionou, mas já era tarde. Só nos Estados Unidos, pelas contas de Obama, foram decepados 8 milhões de postos de trabalho. A recuperação, ao contrário, é lenta: na mesma entrevista coletiva em que falou das dificuldades do processo político e da "impaciência" dos mercados, Obama gabou-se de ter criado 4 milhões de empregos nos últimos 27 meses, ou seja, desde que a primeira onda da crise foi contida.

Posto de outra forma: estímulos do governo mais a ação das empresas da economia real levaram dois anos e pouco para corrigir apenas a metade do estrago que a "impaciência" dos mercados provocara em bem menos tempo.

Bem que o G20 tentou consertar a liberalização excessiva dos mercados financeiros, causa da crise: determinou, quando as cinzas do Lehman Brothers ainda estavam quentes, que os reguladores internacionais preparassem um conjunto de regras que pudessem brecar futuras aventuras.

Até que os reguladores foram rápidos e competentes: as regras ficaram prontas no tempo devido, mas ainda não estão em vigor porque havia o receio -até justificado- de que as novas exigências à banca estrangulassem o crédito porque ela teria que manter mais capital em caixa, sobrando menos disponível para investir.

Acontece que o estrangulamento do crédito deu-se da mesma maneira porque há muita desconfiança entre os próprios bancos, que não sabem exatamente quantos micos cada um deles esconde. Basta ver os diferentes cálculos sobre de quanto os bancos espanhóis necessitam para se recapitalizar.

Como é ilusório esperar que os governos possam acelerar seu ritmo, só resta torcer para que decidam, por fim, jogar luz nas sombras que infectam o sistema financeiro e para que este, sob holofotes, passe a ser menos "impaciente".

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM 'MUNDO'

Moisés Naím

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