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Islamitas ampliam protestos a "golpe brando" no Egito

Apoiadores do candidato da Irmandade Muçulmana lotam a praça Tahrir contra atraso do anúncio do vencedor da eleição

Junta Militar diz que país está em "ponto crítico da história" e ameaça reprimir com a "máxima firmeza"

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

O Egito terminou a semana mais instável desde a renúncia do ex-ditador Hosni Mubarak, há 16 meses, a caminho de uma colisão entre militares e forças islâmicas.

Pelo quarto dia consecutivo, milhares de pessoas lotaram ontem a praça Tahrir, no centro do Cairo, numa maré islamita de repúdio aos decretos emitidos nos últimos dias que ampliaram o poder da Junta Militar.

Islamitas e revolucionários consideraram as medidas um "golpe brando". O atraso dos resultados oficiais da eleição presidencial elevou a suspeita de interferência militar na transição a um governo civil.

A Junta Militar reiterou ontem que não recuará dos decretos, justificando que eles foram necessários "neste ponto crítico da história de nosso país" e ameaçou reprimir manifestações violentas "com firmeza máxima".

No início da semana, horas depois do fechamento das urnas, a Irmandade Muçulmana declarou a vitória de seu candidato presidencial, Mohamed Mursi, com 52% dos votos. O resultado foi corroborado por um grupo de juízes independentes.

Mas em meio a uma onda de notícias conflitantes -entre elas a morte de Mubarak, depois desmentida -o resultado oficial previsto para quinta foi adiado pela comissão eleitoral, que disse precisar de mais tempo para apurar supostas irregularidades.

Logo depois, o adversário de Mursi, o general da reserva Ahmed Shafiq, também afirmou ser o vencedor.

Citando fontes não identificadas do governo, o jornal estatal "Al Ahram" noticiou ontem em sua página em inglês que Shafiq será anunciado presidente amanhã pela comissão eleitoral.

Porém, em mais um sinal da confusão predominante, a versão em árabe do jornal mantinha que Mursi foi o vencedor da eleição.

No curto comunicado lido na TV estatal, os militares acusaram Mursi de provocar agitação no país ao cantar vitória antes da divulgação dos resultados oficiais.

"A divulgação antecipada dos números eleitorais é injustificada e uma das principais razões das divisões e tensões políticas", acusou o comunicado dos militares.

A demora no anúncio dos resultados oficiais deu aos manifestantes da praça Tahrir a sensação de que os militares articulam uma fraude para favorecer Shafiq.

Mursi anunciou uma frente formada por islamitas e ativistas liberais para pressionar os militares com protestos pacíficos.

Mas, na praça Tahrir, os ânimos estavam exaltados.

"Se Shafiq for anunciado vencedor, o roubo da eleição ficará óbvio. A reação será violenta", previu o médico salafista (muçulmano ultraconservador) Abu Mahmoud.

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