Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

'A Síria é muito diferente dos outros países'

MORRIS KACHANI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

A Primavera Árabe deveria ser chamada de "bagunça árabe", só representou instabilidade para a região e até agora não mostrou a que veio.

Bashar Assad, há onze anos no poder na Síria, tendo herdado a cadeira da Presidência de seu pai, Hafez, que por quase trinta governou o país, não pode ser considerado um ditador -e sim um grande reformista.

Ao contrário do que diz a ONU, e apesar dos dez mil mortos em 15 meses, a Síria não vive uma guerra civil.

O pensamento de Mohammed Khadour, embaixador da Síria no Brasil, jornalista de formação, que nas últimas décadas ocupou cargos de chefia no ministério da informação e nos principais meios de comunicação do governo, sintetiza o ponto de vista do establishment de Damasco.

"Desde que não se critique o presidente, os interesses soberanos da nação e a liberdade religiosa, tudo é permitido na Síria", diz ele, em entrevista para a Folha.

Mohammed Khadour - Antes de mais nada gostaria de lembrar que seu jornal não pode chamar nosso presidente de ditador, como tem feito. Gostaria que a imprensa daqui seguisse a política externa do seu governo, que representa o caminho da legalidade e nunca ameaçou romper os laços diplomáticos como outros países fizeram.

Folha - Você considera Muammar Gaddafi, deposto da Líbia, um ditador?
Para nós, qualquer pessoa benquista pelo seu povo não pode ser chamada de ditadora. Talvez esse seja um dos pontos de encontro e desencontro culturais que existem entre os árabes e o Ocidente. Os longos períodos sob um governo e a transição de poder de pai para filho como herança são um processo natural. Isso vale para vários regimes da região, como os emirados do Kuait e de Bahrein ou a Arábia Saudita.

Um colunista como José Simão, da Folha, caberia na imprensa síria?
Temos órgãos oficiais e independentes. Em todos, prevalecem as mesmas regras: desde que não se critique ou se faça humor com o presidente, com os interesses soberanos da nação e com a liberdade religiosa, tudo pode.

Como vê a Primavera Árabe?
Eu pessoalmente considero uma "bagunça árabe", que ocorreu por vontade externa. Questiono se hoje existe de fato uma estabilidade na Líbia, na Tunísia, no Iêmen e sobretudo no Egito.

Seria melhor sem primavera?
A imprensa precisa ser razoável e entender a lógica da região. A diferença cultural é muito grande. Somos um país de terceiro mundo, não de primeiro. De que democracia estamos falando? Houve "Primavera" no Iraque, que os americanos invadiram? E a Arábia Saudita, que é a maior aliada dos americanos? Por que reivindicam uma democracia nesses moldes na Síria e não na Arábia Saudita?

A Síria é um país democrático?
A Síria é muito diferente dos demais países do Oriente Médio. Não há conflito religioso, e o povo nunca foi às ruas pedir a renúncia do seu governante.

É possível fazer oposição ao governo dentro da Síria?
Desde que não haja um desrespeito às nossas leis, sim. Temos partidos a favor e contra o governo. O problema é a oposição no exterior, formada por gente que teve relação errada com o Estado.

A ONU diz que a Síria está em guerra civil. Você confirma?
A Síria não vive uma guerra civil e os números do governo dão conta de 9.000 mortes. O presidente conta com o apoio de 70% da população.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.