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Chávez investe em máquina de propaganda

Marqueteiro brasileiro João Santana montou equipe 'in loco' com a ajuda do ex-ministro de Lula Franklin Martins

Canais privados de televisão são obrigados, por lei, a transmitir até 15 minutos de propaganda oficial

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Em uma casa do bairro de Alta Florida, em Caracas, trabalha a equipe montada pelo marqueteiro João Santana para a campanha de reeleição de Hugo Chávez.

O time, cuja produção causa controvérsia no país, teve para a montagem uma ajuda de peso: a de Franklin Martins, ex-ministro das Comunicações do governo Lula.

Ministros de Chávez e a campanha do venezuelano, porém, não querem falar da presença de Santana e outros brasileiros, ainda mais depois que uma produção do grupo virou debate na imprensa.

Num spot de Santana sobre o programa de habitação do governo, carro-chefe da campanha, um beneficiário chama Chávez diretamente de Simón Bolívar (1783-1830), o prócer do país, e diz que, em sua vida, depois de Deus, vem seu "comandante".

"Não sei nada de Santana", disse à Folha o ministro de Comunicação, Andrés Izarra. Direcionou a reportagem para o comando de campanha.

"Só trabalho com venezuelanos. Não conheço", disse a ministra da Juventude e responsável pela propaganda na campanha, Maripili Hernández. A ministra defendeu a peça publicitária. "O depoimento é espontâneo."

A repercussão do spot foi tanta -uma das frases chegou a ser o assunto mais comentado no Twitter na Venezuela- que o beneficiário da propaganda foi na segunda-feira a um programa na TV estatal repetir, em entrevista, o que tinha dito no filme.

Santana chegou à campanha de Chávez numa negociação costurada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas não apenas ele está envolvido no tema.

Integrantes da cúpula do PT, partido que já declarou apoio explícito a Chávez, também acompanham de perto a eleição na qual, até o momento, Chávez é favorito.

A Folha apurou que o ex-ministro Franklin Martins viajou a Caracas por conta do tema. À reportagem Franklin disse que não está trabalhando para a campanha e que apenas indicou nomes para o staff, a pedido de Santana.

"Trabalhamos juntos na campanha do presidente Lula. Temos uma boa relação."

PRESSÃO SOBRE AS TVS

O que sai do QG onde trabalham brasileiros e venezuelanos não vai apenas para a campanha. Faz parte da robusta máquina de comunicação e propaganda, que vai de TVs a SMS enviados pela estatal do celular Movilnet, que teve caixa recém-turbinado.

Em 5 de junho, os governistas na Assembleia Nacional aprovaram verba extra de US$ 278 milhões (R$ 571 mi) destinada ao Ministério das Comunicações para gastos como propaganda e cobertura da agenda presidencial.

O recurso mais que dobra o orçamento da pasta previsto para 2012, US$ 177 milhões.

Além do dinheiro, há as leis que desequilibram o jogo a favor do governo.

A campanha nem começou e o filme sobre o "Minha Casa, Minha Vida" venezuelano de Santana também teve de ser exibido nos canais privados, entre eles o oposicionista Globovisión. De graça.

Para o governo, a peça faz parte da cota de até 15 minutos diários a que, por lei, tem direito nas TVs privadas para, supostamente, transmitir mensagens institucionais.

A ministra Hernández defende: "Estamos falando de gestão. Nem a oposição nem o CNE [autoridade eleitoral] podem nos impedir de falar dos programas do governo".

De 9 a 20 de junho, por exemplo, o spot de Santana teve de passar na Globovisión três vezes por dia.

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