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Paraguai reclama que foi atropelado por Mercosul

Novo governo afirma que não teve oportunidade de defesa antes de suspensão

Lugo forma gabinete paralelo, que conta com ex-ministros, e se chama de "presidente"; atual governo ameaça puni-lo

ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Acusado de adotar rito sumário no processo que retirou Fernando Lugo do poder na semana passada, o novo governo paraguaio de Federico Franco considera-se vítima de rito sumário dos países do Mercosul.

Segundo o novo chanceler José Félix Fernández Estigarribia, a rápida suspensão do país da cúpula do bloco em Mendoza (Argentina), quinta e sexta, não lhes deu oportunidade de "defesa".

"É curioso que países que nos questionam sobre a brevidade do julgamento [de Lugo] agora nos acionam sem nos dar o direito a defesa."

O principal argumento dos países do Mercosul é a "ruptura da ordem democrática" caracterizada pela ausência de tempo para que Lugo preparasse sua defesa.

O novo chanceler rechaçou a decisão e acusou o bloco de violar o Protocolo de Ushuaia do Mercosul, já que a aplicação de sanções contra um dos Estados-membros só pode ser feita após a consulta ao país afetado (veja ao lado).

Antes da proibição, Franco havia anunciado que seria representado pelo chanceler na cúpula. Lugo, contudo, já fez contato com a presidente Cristina Kirchner, anfitriã da reunião, para ser convidado para a reunião.

"Solicitei que estivesse presente para poder explicar de forma detalhada o que aconteceu aqui na semana passada", disse o ex-presidente.

Não só o Mercosul tem aumentado a pressão. A OEA (Organização dos Estados Americanos) antecipou de amanhã para hoje reunião extraordinária para analisar o processo de impeachment.

Mas o artigo 9º da carta da OEA fala apenas em suspender governo "deposto pela força", o que nem aliados de Lugo alegam (a reclamação é cerceamento de defesa num processo constitucional).

GOVERNO PARALELO

Em meio a um fechamento do cerco regional sobre Franco, Lugo convocou seu antigo gabinete para dar início a um governo paralelo. Os trabalhos começaram às 6h, no primeiro dia útil após o impeachment, na sede do partido País Solidário.

Após o encontro, que reuniu os ex-ministros de Exterior, Interior e Saúde, entre outros, Lugo deu entrevista, em que se referiu o tempo inteiro a ele mesmo como "o presidente Fernando Lugo".

"Formamos um pequeno gabinete político para resistir a esse golpe de Estado. Queremos converter os ministros em fiscais, que vão monitorar tudo o que os novos ministros vão fazer", disse.

O movimento feito por Lugo ontem foi considerado pelo atual governo uma "piada". "Lugo é ex-presidente, e, se falar como presidente, vão ser aplicadas as sanções previstas na legislação", disse o atual chanceler.

Segundo o advogado do ex-presidente, Adolfo Ferrero, porém, as intenções de Lugo foram mal-interpretadas.

"Ele está formando uma equipe, mas não pretende governar de forma paralela. Então, isso não se aplica", disse Ferrero à Folha.

O afastamento não suspende os direitos políticos do ex-presidente -apenas um possível processo judicial.

Lugo pensa em se candidatar a senador ou deputado na eleição de abril de 2013. O tribunal eleitoral do país descartou antecipar o pleito.

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