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Análise

Israelenses têm motivos para se preocupar com situação egípcia

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIADA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há muito mais fumaça do que fogo no Egito hoje, até por conta da incerteza acerca da natureza do poder da Irmandade Muçulmana sobre os rumos da nação, mas é inequívoco que Israel tem motivos para preocupar-se.

Nos últimos cinco anos, a relativa tranquilidade geopolítica que o Estado judaico tinha virou pó. Relativa, é claro. Israel mesmo travara uma guerra em 2006, na qual viu o grupo libanês pró-Irã Hizbollah sair-se bem.

Mas havia algum conforto para um planejador israelense. O Egito seguia como um monólito político confiável, tal e qual a Jordânia.

A Síria mantinha sua ditadura confortável: apesar de ser rota de apoio ao Hizbollah, um conflito era tão improvável que Israel destruiu uma central nuclear secreta de Damasco em 2007 sem grandes repercussões.

A aliança militar e política com a Turquia florescia. Isso tudo mudou após os ataques contra a faixa de Gaza entre 2008 e 2009 e a ação contra uma flotilha turca que trazia ajuda a palestinos, em 2010.

O governo islâmico moderado da Turquia, que já ensaiava uma expansão política regional, afastou-se de Israel e congelou seus acordos.

Isso custou US$ 5 bilhões em tanques e US$ 2 bilhões em mísseis que Israel iria fornecer a Ancara. Mas o principal foi a perda de um aliado vital, e da Otan, em caso de conflagração regional.

A Síria está em incerta desintegração. O reino jordaniano ainda controla a insatisfação, mas tem uma enorme população palestina de olho na criação de um Estado próprio do outro lado da fronteira.

E há o Egito. O xis da questão é se de fato há relação da Irmandade Muçulmana com o Irã. Ambos anti-israelenses, mas de matrizes religiosas distintas. Nos últimos anos, a aceleração do programa nuclear iraniano e a pressão de EUA e Israel contra ele só aumentaram a volatilidade.

De quebra, há o endurecimento israelense desde a volta de Binyamin Netanyahu ao poder em 2009, não só em relação ao Irã, que seu governo ameaça atacar, mas também por tomar medidas contra interesses palestinos que deterioraram ainda mais sua interlocução regional.

Claro que é preciso entender primeiro quais as garantias que os militares egípcios deram aos EUA, e por tabela a Israel, sobre as rédeas colocadas na Irmandade.

De todo modo, os israelenses têm motivos para se sentirem acuados estrategicamente, e isso não costuma traduzir-se em boas notícias para a paz. Resta saber o que os EUA, o único poder moderador verdadeiro da região, têm a fazer -ainda mais vivendo um ano eleitoral.

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