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Narcoviolência marca eleição no México

Política de segurança no combate ao tráfico opõe os principais candidatos no pleito presidencial deste fim de semana

Tema contrapõe ainda elite e classes baixas; legalização das drogas e relações com EUA são questões polêmicas

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

O assassinato de três policiais em plena área de embarque do aeroporto internacional da Cidade do México, anteontem, causando pânico entre passageiros, reforça o clima de guerra no país a poucos dias da eleição presidencial.

Os policiais trabalhavam numa operação contra o tráfico de drogas. Agora, somam-se às estatísticas que dão conta de mais de 50 mil mortos e 30 mil desaparecidos desde 2006, quando o presidente conservador Felipe Calderón (PAN, Partido da Ação Nacional) iniciou uma ofensiva bélica contra o crime organizado.

A cada semana, surge pelo menos uma notícia de sequestros, morte de oficiais, criminosos ou jornalistas, quando não são assassinatos múltiplos, como o caso dos 14 corpos deixados numa estrada perto de Veracruz e os 14 mutilados em Tamaulipas, para citar exemplos recentes.

Os crimes grupais são formas de um cartel avisar a outro que está dominando determinado território. Junto aos mortos, são deixadas as "narcomensagens", pedaços de cartolina ou pano com a assinatura do cartel que realizou o massacre. Às vezes, as mensagens são escritas com sangue nos próprios corpos.

No próximo domingo, os mexicanos vão às urnas eleger um novo presidente. Os candidatos se dividem quanto às formas de combater o narcotráfico.

O favorito nas pesquisas, Enrique Peña Nieto (PRI, Partido Revolucionário Institucional), pretende reforçar a opção bélica. Quer criar uma nova polícia que maneje armas nas cidades, tornar mais severo o sistema penitenciário e aumentar o orçamento destinado à segurança, de 1% para até 5% do total.

Disse que irá focar na violência mais cotidiana e não na perseguição e prisão dos grandes chefes da droga, como fez Calderón.

Já o esquerdista Andrés Manuel López Obrador (PRD, Partido da Revolução Democrática) aposta num discurso voltado à solução dos problemas econômicos regionais, que levam os jovens a serem recrutados pelos criminosos.

"Há uma distinção entre as opiniões por parte da elite progressista da Cidade do México e da população do resto do país. A elite diz que o sistema atual chuta o vespeiro e cria mais violência; já quem vive no interior deflagrado quer que o governo mande logo o Exército", disse à Folha a ex-deputada e ex-embaixadora do México no Brasil, Cecilia Soto.

LIBERAÇÃO DAS DROGAS

O problema do narcotráfico começou a crescer no México nos anos 90, com a decadência dos cartéis de Cali e Medellín, na Colômbia. A cocaína produzida por países sul-americanos passou, então, a ser transportada para dentro dos EUA por meio de rotas mexicanas.

Logo, os cartéis locais passaram a incorporar sua produção própria de heroína e maconha. Para ajudar a financiar o esquema, começou a se disseminar a prática dos sequestros e da extorsão. A estimativa é que o mercado mexicano da droga movimente US$ 30 bilhões por ano.

"É difícil para um jovem no interior, pobre, sem condições, não ser seduzido pelos altos pagamentos que o narcotráfico oferece", diz Soto.

Para o jornalista britânico Ioan Grillo, radicado na Cidade do México e autor de "El Narco", os pontos mais cruciais da discussão, porém, têm sido deixados de lado: a legalização das drogas e a participação dos EUA como mercado consumidor.

Peña Nieto é contra a liberação, e López Obrador evita falar do tema.

"O México é um país muito conservador. Falar de liberação de drogas significa perder votos. E exigir dos EUA uma ação mais agressiva em relação ao tráfico traz um desgaste com o vizinho", diz.

Em discurso ontem, Calderón pediu que seu sucessor não "atire pela janela" a luta iniciada há seis anos e não mude de estratégia no combate ao crime organizado.

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