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Análise

Líder chegou ao poder em coalizão desajeitada e não fez governo sólido

RIORDAN ROETT
ESPECIAL PARA A FOLHA

O impeachment de Fernando Lugo é parte da busca continuada por estabilidade política no Paraguai.

Isolado durante décadas depois da independência, no começo do século 19, desmembrado na década de 1860 como resultado da Guerra da Tríplice Aliança e convulsionado pela Guerra do Chaco contra a Bolívia nos anos 30, o Paraguai viveu sob a ditadura de Alfredo Stroessner, encerrada por um golpe de Estado -um longo histórico de instabilidade.

Depois de Stroessner, um presidente foi forçado a renunciar em 1999; outro sofreu impeachment em 2003.

O Partido Colorado, que há muito domina a política paraguaia, foi desafiado e derrotado por Lugo em 2008.

A frustração diante da corrupção e da exploração dos camponeses por proprietários locais de terras, multinacionais e interesses agrícolas brasileiros permitiu que Lugo construísse uma coalizão frágil e desajeitada que jamais chegou a se solidificar em um governo aceito como legítimo pelas elites tradicionais do país.

Lugo perdeu prestígio ao admitir que tinha dois filhos fora do casamento -e isso em um país católico muito conservador; a situação era inaceitável, especialmente porque ele havia sido bispo.

O principal desafio para Lugo estava na Constituição pós-Stroessner.

Ela limita seriamente a Presidência e delega poderes decisórios consideráveis ao Congresso e às agências do Estado.

FALTA DE APOIO

Lugo jamais conseguiu construir apoio significativo às suas propostas de reforma no Legislativo, e a oposição conservadora passou a encará-lo cada vez mais como reformista radical, simpático aos posseiros rurais.

Foi, claro, um choque entre a polícia e posseiros, causador de diversas mortes, que resultou na crise.

As elites políticas sugerem que a oposição não tinha escolha a não ser restaurar a ordem e prevenir um colapso da lei diante das manifestações cada vez mais intensas na capital, Assunção.

Há indicações de que a oposição acredita que Lugo seja simpático ao Exército do Povo Paraguaio, um incipiente movimento guerrilheiro que tenta defender os direitos dos camponeses no interior do país.

A questão é crítica para a região. As forças tradicionais têm o direito de usar a Constituição a fim de derrubar um líder político legitimamente eleito porque ele representa uma visão social e econômica diferente para o país?

Se a resposta for afirmativa, as Américas enfrentarão sérias questões de governo e democracia.

RIORDAN ROETT é professor e diretor do Programa de Estudos Latino-Americanos e do Hemisfério Ocidental na Universidade Johns Hopkins

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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