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Análise

Intervenção militar não é carta fácil de pôr na mesa

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Nas discussões entre as potências sobre a crise na Síria, há uma carta que com quase 100% de certeza -100% não existe em política internacional- deverá estar fora do baralho: a intervenção militar.

Não só porque China e Rússia veementemente se opõem a isso, mas também pela dificuldade de implementação. A Síria não é a Líbia. Mesmo uma mera "zona de exclusão aérea" dificilmente teria efeitos práticos.

O abate de um caça-bombardeiro turco F-4 Phantom pela defesa aérea síria foi um recado óbvio de Damasco.

O chamado "poder aéreo" virou uma panaceia militar do mundo ocidental, notadamente da sua aliança militar, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Custa caro operar aviões, mas o risco de baixas é muito pequeno, como mostraram as intervenções da aliança militar nos Bálcãs, no Afeganistão e também na Líbia.

No caso líbio, a atuação da aviação foi mais importante. Os alvos no deserto eram fáceis de serem identificados.

Na Síria, o combate ocorre em cidades, onde os alvos são muito mais difíceis de serem localizados e atacados com precisão pelos aviões, sem os tais "danos colaterais" (morte de civis).

A ditadura síria, claro, não liga para esses "danos", como mostram as imagens de televisão de helicópteros de ataque como o russo Mi-24 despejando os seus foguetes em zonas urbanas.

As tropas terrestres dos rebeldes líbios eram equivalentes em número e eficácia ao dilapidado Exército do ditador Muammar Gadaffi; os aviões da Otan foram o diferencial que permitiu o fim do regime. Já os rebeldes sírios enfrentam uma máquina de guerra bem mais poderosa.

Mas mesmo a Otan teria pela frente uma defesa aérea mais parruda.

A Força Aérea Síria é bem maior do que era a da Líbia de Gaddafi. São uns 600 aviões de combate sírios, eram no máximo 350 aviões líbios (e mais da metade estava armazenada sem pilotos para operá-los).

Mas a Síria tem um "Comando de Defesa Aérea" que reúne 60 mil homens -mais que os 40 mil da Força Aérea. São perto de 5.000 mísseis russos, de praticamente todos os modelos. Sem contar outros 4.000 mísseis do Exército, ou os 4.000 mísseis disparados por uma pessoa apoiados no ombro; e milhares de canhões e metralhadoras antiaéreas.

Realmente não seria uma carta fácil de pôr na mesa.

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