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ONG mapeia 27 centros de tortura do regime sírio

Maus-tratos são política de Estado no país, diz a Human Rights Watch

Ditador Bashar Assad afirma, em entrevista, arrepender-se de ter abatido um caça turco durante o mês passado

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A organização HRW (Human Rights Watch), de defesa dos direitos humanos, publicou ontem relatório mapeando o que chamou de "arquipélago de tortura" sírio.

Trata-se de uma rede em operação desde que começou a insurgência contra o regime na Síria, em março de 2011.

Espalhados pelo país como ilhas, os centros de detenção torturam dezenas de milhares de sírios, muitos dos quais presos arbitrariamente.

A HRW pede que o Conselho de Segurança das Nações Unidas encaminhe o caso para o Tribunal Penal Internacional e responsabilize o ditador Bashar Assad por crimes contra a humanidade.

O relatório foi redigido após mais de 200 entrevistas com ex-detentos e desertores do Exército e das agências de inteligência da Síria. Foram mapeados no total 27 centros de tortura, mas a estimativa da Human Rights Watch é que esse número seja maior.

A rede de tortura é, segundo a HRW, chefiada pelo chamado "mukhabarat", que engloba as principais agências de inteligência do país árabe.

O documento cita mais de 20 métodos de tortura, como o "falaqa" (bater na sola do pé com bastões ou chicotes) e o "shabah" (pendurar a vítima no teto pelos punhos).

Há também o método apelidado "basat al rih", ou "tapete voador", em que o torturado é preso a uma tábua, deixando a cabeça pendente.

"O uso de tortura não é novo na Síria, mas chegou a um patamar inédito", diz à Folha por telefone Philippe Bolopion, um diretor da HRW.

"Essa parece ser uma política de Estado implementada sistematicamente", afirma.

AVIÃO DERRUBADO

A situação na Síria está se tensionando também no campo militar. A Turquia enviou jatos anteontem, pelo terceiro dia seguido, para a fronteira com o vizinho.

A relação entre os dois países complicou-se durante o mês passado, quando a Síria derrubou um avião turco.

Ontem, Assad afirmou a um jornal da Turquia que se arrepende da derrubada do caça. O ditador sírio disse, também, que "ficaria feliz se tivesse sido um avião israelense".

A razão do incidente, segundo Assad, foi a deterioração das relações diplomáticas com a Turquia. "É uma vergonha que agora não tenhamos o número de telefone de um único comandante do Exército turco para ligarmos em uma situação de emergência."

Referindo-se à proposta feita por potências internacionais, no sábado, o ditador afirmou que "o futuro da Síria será decidido pelo povo sírio".

Em reunião convocada por Kofi Annan, enviado especial da ONU, foi aprovado entre os países presentes o plano de criação de um governo de transição na Síria -oferta recusada pelo regime e também por grupos da insurgência.

A oposição síria afirma que ao menos 56 pessoas, incluindo 34 civis, foram mortas ontem em conflito entre rebeldes e as forças de segurança.

Colaborou DIOGO BERCITO, de São Paulo

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