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"O Líbano vive em estabilidade muito precária", diz ex-premiê

Michel Aoun critica 'inflitração' do Exército Livre da Síria no país

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BEIRUTE

Michel Aoun, 76, foi premiê do Líbano de 1988 a 1990. Detido e exilado pela Síria, retornou em maio de 2005, quando ocorreu a retirada das tropas sírias de ocupação. Seus seguidores o descrevem como "o reformador da sociedade".

Aoun comanda o principal partido de oposição, o Movimento Patriótico Livre -uma coalizão majoritariamente cristã, mas com visão laica da política, hoje aliada ao

Hizbollah, cujo braço armado é financiado pelo Irã, com a conivência da Síria.

"O general", como seus seguidores o chamam, se nega a descrever a milícia islâmica como terrorista e a define como movimento de resistência.

A Folha o entrevistou em sua lendária residência em Rabieh, uma fortaleza protegida por medidas de segurança dignas de um chefe de Estado, com barreiras militares, seguranças pessoais e modernos dispositivos eletrônicos.

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Folha - Qual é a atual situação política do Líbano?

Michel Aoun - Vivemos em estabilidade muito precária. Manter o Líbano estável e não permitir que seja influenciado pelos movimentos que nos cercam custa muito esforço.

Temos infiltrações em território libanês pelo chamado Exército Livre da Síria, o que poderia causar um confronto com o Exército libanês.

No âmbito político, tentamos não interferir na disputa síria, no confronto de sírios contra sírios, e nos mantemos à margem disso.

Por que a crise na Síria está acontecendo?

Os Estados Unidos são o primeiro país a apoiar essa crise, em companhia da União Europeia. Há dois motivos: o primeiro é a segurança de Israel e o segundo é o petróleo.

Também seria uma maneira de cercar o Irã?

A crise é um ataque ao povo iraniano. O Irã está em um processo de geração de energia nuclear e lhes foi ditado que deixem de fazê-lo.

Vemos essa guerra como uma maneira de tentar controlar toda a região. É um conflito entre dois grandes [EUA e Rússia] pelo qual pagamos.

Quem lidera essa guerra?

O país fundador dessa guerra é Israel, porque é um Estado racista e deseja criar uma região racista. E há também os interesses ocidentais que têm Israel como base.

É possível prever quanto tempo vai durar essa crise?

Difícil prognosticar quando o fim chegará, porque a crise síria é uma luta entre grandes forças. Não se trata de um conflito entre o povo sírio e o seu governo.

Esse estado de conflito pode gerar guerra civil no Líbano?

Há intenções internacionais de que volte a surgir uma guerra civil no Líbano. Mas a estabilidade política impede que um novo confronto interno seja deflagrado.

Quais foram os custos políticos que o sr. teve de pagar pelo acordo com o Hizbollah?

No Líbano, perdi 18 pontos percentuais de popularidade ao assinar o acordo com o Hizbollah. Mas não vejo o resultado como custo ou perda, porque o país ganhou estabilidade, abertura e, o mais importante, unidade nacional.

É claro que o acordo encontrou repercussão negativa nos Estados Unidos, que caracterizam o Hizbollah como parte do eixo do mal.

O que o sr. pensa sobre a comunidade libanesa no Brasil?

A diáspora libanesa em todo o mundo, e especialmente no Brasil, desempenha papel importante nas eleições, caso possam votar em seus países de residência ou se vierem ao Líbano. Mas eles precisam saber que terão de prestar contas sobre suas decisões.

Eles têm que pensar com cuidado e contemplar o que acontece ao nosso redor, no norte do Líbano e na região, antes de decidir.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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