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Clóvis Rossi

Líbia, Síria e a divisão do mundo

Sem o ex-ditador Muammar Gaddafi, o país está melhor, mas o modelo não está servindo para Damasco

A eleição do dia 7 na Líbia demonstrou que, por mil e um problemas que o país tenha, está melhor hoje do que estava com Muammar Gaddafi no poder.

O que significa que a intervenção militar defendida pelos grandes países ocidentais, aceita a contragosto por China e Rússia, mas rechaçada pelo Brasil, produziu, sim, resultados positivos.

Não foi, como não poderia ser, um passeio no bosque, claro. Mas a alternativa para a comunidade internacional era cruzar os braços e ser testemunha passiva de outra Ruanda, outra Srebrenica.

A edição desta semana da revista "The Economist" revisita esse dilema para concluir: "Imagine como a Líbia estaria hoje se Gaddafi tivesse conseguido reimpor seu regime de terror e loucura. A carnificina teria sido incontrolável. Seu povo teria sido atirado a uma escuridão mais completa do que nunca".

Não só tamanho horror foi evitado, como a Líbia está conseguindo fazer uma transição razoavelmente organizada.

Escreve por exemplo Frederic Wehrey, do instituto Carnegie para a Paz Internacional, um desses intelectuais que não ficam no escritório produzindo "papers", mas vão a campo examinar a situação:

"Acho que dá para ser cautelosamente otimista sobre a transição na Líbia", por um lado, por ter organizado eleições bastante limpas para um país submetido a absoluto controle durante décadas; por outro, "porque a produção de petróleo excede as expectativas ao já superar os níveis pré-guerra, fornecendo fundos muito necessários para ajudar a estabilizar a economia e o Estado".

Wehrey, como muitos outros, aponta como o grande deficit na transição a segurança pública e a contínua atividade das milícias (são cerca de 60, em cujas mãos fica boa parte das 20 milhões de armas que a guerra deixou soltas).

Ou, como prefere editorial de "El País", "não se trata de uma transição à democracia, mas de construir um Estado. E os líbios partem praticamente de zero".

Só partem porque houve a intervenção militar externa. É um tremendo contraste com a situação da Síria, em que a comunidade internacional assiste ao banho de sangue que soube evitar em Benghazi.

No caso da Síria, está ocorrendo o que Michael Ignatieff, ex-líder do Partido Liberal canadense, hoje professor na Universidade de Toronto, define como a divisão do mundo em duas partes:

"O conflito sírio disparou algo mais fundamental do que uma diferença de opinião sobre intervenção, algo mais que um debate sobre se o Conselho de Segurança deveria autorizar o uso da força. A Síria é o momento em que o Ocidente deveria ver que o mundo se partiu efetivamente em dois. Uma aliança frouxa de democracias capitalistas em dificuldades agora se encontra face a face com dois despotismos autoritários -Rússia e China-, algo novo nos anais da ciência política: cleptocracias que misturam economia de mercado e Estado policial. Esses regimes apoiarão tiranias como a da Síria onde for de seu interesse".

Está na hora de o Brasil definir claramente de que lado desse mundo partido quer ficar.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Luiz Carlos Bresser-Pereira

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