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Ambulatório na rota da metrópole é precário

DO ENVIADO A TAL RAFAT (SÍRIA)

Coberta de tinta preta, incluindo nos vidros, a van que chega com um homem enfaixado parece um carro funerário, mas é uma ambulância disfarçada.

Ela serve o único ambulatório de Tal Rafat, abrigado clandestinamente em uma casa para evitar os bombardeios do regime que atingiram nos últimos meses os hospitais e clínicas desta cidade a 35 km de Aleppo.

O atendimento é precário, há poucos medicamentos e o laboratório para exame de sangue foi instalado na pia da cozinha. Mas é o único ambulatório daqui até Aleppo, e recebe diariamente dezenas de feridos que têm chegado da linha de frente.

O jovem trazido pela ambulância negra é um desertor do Exército que passou para o lado rebelde e foi ferido por estilhaços de um bombardeio de helicópteros em Aleppo um dia antes.

O pulmão foi perfurado por metais e o corpo está coberto de ferimentos, e ele conta devagar sua história.

"Fiquei dez meses preso numa base perto de Palmira por me recusar a atirar em manifestantes", afirma Mahmud, 20. "Na primeira folga que me deram, desertei."

"TERRORISTAS"

Nos meses em que ficou confinado, Mahmud diz que ouviu colegas de farda voltarem das ruas contando com bazófia quantos "terroristas" mataram e mostrando objetos saqueados, como celulares.

Ele confirmou o relato de outros desertores de como é composta a repressão do regime de Assad. A linha de frente é toda formada por soldados sunitas, a seita muçulmana à qual pertence a maioria da população síria.

Atrás vêm membros do "mukhabarat", a polícia secreta. Na terceira linha estão os oficiais, a maior parte da minoria alauita (vertente liberal do xiismo), a mesma do ditador Bashar Assad.

Ao contrário dos combatentes mais velhos, que procuram manter uma imagem sem sede de vingança da revolução, o jovem desertor não esconde seu ressentimento.

"Mato quantos alauitas eu puder", diz, enquanto recebe tratamento. "Eles merecem o mesmo que fazem conosco."

Mantido geralmente apenas por enfermeiros, o ambulatório recebeu ontem seu primeiro médico, um cirurgião de Aleppo que se mudou há cinco anos para um país do golfo Pérsico e voltou para ajudar a revolução.

Para A., Aleppo foi a última cidade a mergulhar na guerra civil por três motivos. Primeiro, o trauma deixado pela violenta repressão do regime no início dos anos 80. O mais famoso massacre foi em Hama (centro), que deixou pelo menos 20 mil mortos.

O segundo motivo foi a pregação de xeques "corruptos". Alem disso, Aleppo é a cidade mais rica da Síria, e não enfrenta os problemas de lugares como Hama e Homs.

(MN)

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