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O Rei da droga

Joaquim "El Chapo" Guzmán, do cartel de Sinaloa, fez fama desafiando autoridades

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Numa tarde de sábado de 2005, Joaquim "El Chapo" Guzmán teve vontade de comer bife e camarões. Acompanhado de 30 guarda-costas, foi até um restaurante de Nuevo Laredo, em Tamaulipas (México), sentou-se e mandou que trancassem as portas.

Os presentes foram orientados a entregar seus celulares e a continuar comendo. Satisfeito, pagou a sua conta -e a de todos os que estavam no restaurante- e saiu.

Quatro anos antes, o líder do cartel de Sinaloa, o mais poderoso grupo de narcotraficantes do México, havia escapado da prisão escondido num carrinho de roupa suja. Desde então, a fama de vilão que desafia as autoridades e escapa ileso só aumentou.

No ano passado, sua mulher, a cidadã americana Emma Coronel Aispuro, deu à luz duas gêmeas num hospital de Los Angeles. A polícia tentou segui-la para rastrear o paradeiro de Guzmán, mas não conseguiu. Aispuro atravessou de volta a fronteira e juntou-se a seu companheiro em seu esconderijo secreto.

Para especialistas no narcotráfico mexicano, negócio que lucra US$ 30 bilhões (R$ 60 bilhões) por ano ao transportar cocaína produzida na Colômbia e no Peru para os EUA, Guzmán já é mais poderoso do que Pablo Escobar (1949-1993), o líder do mítico cartel de Medellín.

"Guzmán aprendeu de Escobar. Ele se dedica aos negócios e não tem pretensões políticas como o colombiano. Além disso, está vivendo mais que Escobar [Guzmán tem 55, Escobar morreu aos 44]", diz à Folha Malcolm Beith, jornalista americano, autor de "The Last Narco" (o último narco), uma biografia de Guzmán.

Filho de um fazendeiro de poucos recursos, Guzmán vendia laranjas quando pequeno. Tem 1,68 metros de altura e, segundo testemunhas, um grande senso de humor.

Para ludibriar as autoridades, está sempre mudando de esconderijo. Tem duas irmãs, quatro irmãos e, ao menos, quatro filhos. Os homens maiores de idade da família trabalham todos para ele.

Guzmán começou no narcotráfico fazendo pequenos trajetos de carro com mercadorias, depois coordenando voos clandestinos.

Nos anos 90, quando os cartéis colombianos começaram a ser duramente perseguidos pelo Exército e tiveram sua influência diminuída, os traficantes mexicanos começaram a ocupar esse espaço, que hoje dominam.

"Guzmán é fruto dessa situação. Hoje é um dos grandes responsáveis pela entrada de drogas nos EUA", diz o jornalista Jorge Naredo, especialista em narcotráfico do jornal "La Jornada".

Calcula-se que o cartel de Sinaloa opere atualmente em 17 dos 31 Estados mexicanos. Entre outras atividades, promovem a construção de túneis na fronteira que se dedicam a dar fluxo às drogas para dentro dos EUA. A fortuna pessoal de Guzmán é calculada em US$ 1 bilhão (aproximadamente R$ 2 bilhões).

Naredo aponta para a influência que Guzmán tem entre os jovens pobres. "Ele é um herói, uma espécie de Robin Hood, exaltado pelos narco-corridos [estilo musical popular no norte do país]. Todos querem imitar seu modo de vestir-se, as calças largas, o sombreiro, o estereótipo do 'narco rural'", define.

As recompensas pela captura de Guzmán já somam quase US$ 10 milhões (cerca de R$ 20 milhões), juntando as ofertas das autoridades mexicanas e das americanas.

Para Beith, o que mantêm Guzmán fora do radar da polícia e do Exército são a parede de silêncio e a "rede de desinformação" que conseguiu armar em torno dele.

"Há uma mitologia formada a partir de suas histórias, e muitos 'secretos a vocês' [segredos que são conhecidos por muitos, mas não veiculados], como se diz no México, que ajudam a camuflar suas atividades", resume.

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