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Revolta síria atrai jovens de classe média

Em Aleppo, universitários treinam para se juntar a rebeldes, mas enfrentam fila de espera por armamentos

Segunda maior cidade do país, Aleppo está há nove dias sob violentos combates e ataques aéreos das tropas sírias

Efe
Rebeldes do Exército Livre da Síria patrulham rua na cidade de Aleppo, no norte da Síria, atual epicentro da rebelião contra o regime de Bashar Assad
Rebeldes do Exército Livre da Síria patrulham rua na cidade de Aleppo, no norte da Síria, atual epicentro da rebelião contra o regime de Bashar Assad

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MAREA (SÍRIA)

Sentados sobre colchões numa das salas de aula de uma escola convertida em base rebelde, oito estudantes da universidade de Aleppo mal passados dos 20 anos conversam animadamente.

É noite e eles acabaram de chegar ao vilarejo de Marea, 32 km ao norte da cidade, a metrópole síria que vive violentos combates há nove dias.

O objetivo: receber treinamento militar para aderir ao ELS (Exército Livre da Síria), a milícia rebelde que desafia o punho de ferro do regime e já controla metade de Aleppo, a maior cidade síria.

As camisas de grife e o inglês decente contrastam com a origem simples da maioria dos combatentes. A classe média universitária que deflagrou os protestos em Aleppo, em abril do ano passado, quer pegar em armas.

"Vim treinar porque nunca usei uma arma", admite o estudante de administração Amir, 21, morador do bairro rico de Nova Aleppo. Como os outros, ele ganhou o direito de adiar o serviço militar obrigatório aos 18 ao ingressar na universidade.

O desejo de adesão é crescente, mas muitos ficam na fila de espera porque não há armas para todos. É o caso de Ahmed, 23, formado em inglês na universidade "revolucionária" de Aleppo, como ele chama o campus.

"No começo acreditávamos em protestos pacíficos, mas a resposta do regime foi tão brutal que a maioria dos meus colegas quer aderir ao ELS", diz Ahmed.

Ele conta que ficou preso 37 dias numa prisão subterrânea por organizar e documentar protestos em seu blog. Há dois meses, decidiu se juntar à luta armada. "Cheguei atrasado, não há armas."

Quem tem condições financia o armamento do próprio bolso, algo para poucos. Um fuzil Kalashnikov, o preferido dos insurgentes, está custando cerca de 100 mil libras sírias (R$ 3.130).

Comandantes rebeldes dizem que a maioria das armas usadas contra o regime foi capturada do inimigo, como fuzis e lança morteiros.

O arsenal é reforçado em cozinhas de apartamentos, que viram fábricas improvisadas de bombas caseiras.

Nas ruas de Aleppo, carcaças de tanques incendiados são a prova de que os explosivos funcionam. Mais de 20 foram destruídos na última semana, diz o ELS.

DAMASCO

Mas o poder de fogo das tropas leais ao ditador Bashar Assad é amplamente superior, sobretudo nos céus.

Helicópteros voltaram a bombardear ontem bairros de Aleppo dominados pelos insurgentes, embora em escala menor que nos últimos dias. Segundo a ONU, 200 mil pessoas fugiram da cidade só no fim de semana.

Desde que a rebelião contra Assad começou, há 16 meses, estima-se que cerca de 20 mil pessoas tenham morrido.

O regime declarou vitória em Damasco, depois de duas semanas de intensos ataques para conter a ofensiva rebelde na capital.

Leon Panetta, secretário de Defesa dos EUA, disse ontem que Assad perdeu totalmente a legitimidade e que seu regime está perto do fim.

"Se continuarem com esse trágico tipo de ataques contra seu próprio povo em Aleppo, acabará sendo um prego no caixão de Assad", disse Panetta.

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