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Análise

Desertores trazem informações vitais sobre o regime sírio e suas estratégias

HENI OZI CUKIER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na Síria, como em qualquer ditadura, nem todas as deserções têm o mesmo peso. A composição étnica e sectária ajuda a entender quem são os desertores capazes de alterar o equilíbrio do regime.

O poder da família Assad está fundamentado em três pilares: a coesão dos alauítas (12% da população); o controle alauíta do aparato militar e inteligência; o monopólio político do partido Baath.

Até o momento, a maioria absoluta dos 41 desertores é sunita (mais de 70% da população). Cada deserção tem um impacto específico.

A saída do premiê Riyad Farid Hijab afeta a legitimidade do partido Baath. Mas ainda mais importante foi a recente deserção do general Nasr Mustafa, vice-chefe da Inteligência da Força Aérea.

A relevância desse fato está na sua origem alauíta, a mesma de Assad. Isso sugere que o regime possa estar perdendo domínio do aparato de segurança e inteligência.

Apesar de Mustafa não ser um militar do alto escalão, sua saída pode inspirar outros alauítas a fazerem o mesmo. Do ponto de vista prático, a perda do controle da estrutura militar é a maior ameaça para a sobrevivência do governo, pois até agora a solidez do aparato militar tem abastecido o governo com uma vantagem inigualável.

As deserções servem a dois propósitos importantes. O primeiro é desmontar o regime, e o segundo é reforçar os rebeldes.

Grande parte dos desertores tem apoiado direta e indiretamente a oposição. Em um regime fechado como o sírio, entender o seu funcionamento e suas vulnerabilidades é crucial para uma vitória. Esses desertores trazem informações preciosas sobre o governo e as suas estratégias.

Outro fator importante se refere à inexperiência da oposição, não somente em questões políticas como também em operações militares. A adesão de antigos membros do regime à causa rebelde fortalece suas capacidades.

Em um futuro governo pós-Assad, será imprescindível a experiência dos antigos membros do governo para manter a estabilidade do Estado.

HENI OZI CUKIER é cientista político e professor de relações internacionais da ESPM-SP

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