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Desabrigados sofrem com falta de higiene e medo de lobos no Irã

Morando em tendas, pessoas atingidas por tremores preocupam-se com a grande quantidade de animais

Tremores do final de semana deixaram mais de 300 mortos; governo é criticado por resposta muito lenta ao desastre

Ali Hamed Haghdoust/Mehr/Associated Press
Homens vasculham as ruínas de uma vila atingida pelo terremoto perto da cidade de Varzaqan, no noroeste do Irã; tremores de anteontem deixaram mais de 300 pessoas mortas
Homens vasculham as ruínas de uma vila atingida pelo terremoto perto da cidade de Varzaqan, no noroeste do Irã; tremores de anteontem deixaram mais de 300 pessoas mortas

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL AO NOROESTE DO IRÃ

Quando a noite cai, mulheres e crianças cerram-se nas barracas que abrigam os sobreviventes do terremoto no Irã, e os homens começam o revezamento na vigília.

O terror dos acampamentos durante a escuridão é a grande quantidade de lobos que rondam as áridas montanhas da região.

Os animais são atraídos principalmente pelas vacas, pelas ovelhas e pelas galinhas que compõem o magro patrimônio dos vilarejos do noroeste do país.

O terremoto, ocorrido há três dias, matou 306 pessoas e arrasou dezenas de localidades.

Não foi só isso: além das casas, o terremoto destruiu os estábulos que protegiam o gado dos predadores naturais quando os moradores dormiam. Agora soltos, os animais domésticos tornam-se presa fácil.

Homens de várias aldeias visitadas pela Folha passaram ontem o dia improvisando currais com cercas de arame e madeira.

"Quase todas as minhas galinhas e carneiros morreram no desmoronamento do estábulo que ficava do lado da minha casa. Sobraram alguns animais, que hoje representam tudo o que eu tenho", diz o camponês Omid, 41.

Enquanto as cercas não eram erguidas, o gado perambulava pelo acampamento, demonstrando nervosismo.

Uma vaca fugia do seu filhote que queria ser amamentado, enquanto burros gritavam sem parar.

Cães, que poderiam proteger o rebanho, são raros no país por serem tidos como impuros para muitos dos muçulmanos.

Existem no Irã registros de ataques isolados de lobos contra humanos nos últimos anos. Em 2005, uma manada matou um morador de rua num vilarejo no nordeste do país asiático.

AJUDA SOB CETICISMO

Na aldeia de Chalehmaghiboulagh (na fronteira com o Azerbaijão), um caminhão-pipa distribuía água utilizada para manter higiene e atenuar o calor.

Já a água engarrafada era entregue por voluntários do Crescente Vermelho (braço da Cruz Vermelha nos países islâmicos), que trabalham em coordenação com o regime. Também havia distribuição de minicestas básicas contendo pão, biscoitos e enlatados.

Técnicos da companhia estatal de eletricidade instalavam novos postes e fiações, prometendo o restabelecimento da energia para as horas seguintes.

Autoridades enviaram equipes em busca de um levantamento detalhado da situação para fomentar planos de criar um fundo nacional de ajuda às vítimas.

VAIVÉM

O vaivém dos funcionários corria sob o olhar cético dos moradores. "O governo fornece coisas básicas, mas continuamos sem banheiro", disse a dona de casa Didem, 56.

O anúncio ontem de que o governo doará US$ 1.000 a cada família afetada, além de um crédito com juros baixos de US$ 6.000, foi recebido com frieza.

"Isso não paga nem o material para reconstruir minha casa. E como poderia pegar um empréstimo se não tenho emprego?", questionava Ali.

Na aldeia de Chaykandi, 20 km mais ao sul, o governo montou um dos maiores acampamentos de sobreviventes. "Ninguém aqui tem ideia de quanto tempo vamos ficar nessas condições", afirmou a dona de casa Manijeh, 29, preocupada com a queda da temperatura esperada nas próximas semanas, prenunciando inverno.

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