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Cidades-fantasmas indicam bolha chinesa

Escala dos empreendimentos vazios impressiona e pode provocar estragos na segunda maior economia do planeta

Segundo especialistas, falta de opções de investimento pode ser uma explicação para excesso de construções

3.jun.2012/Reuters
Homem anda de bicicleta perto de complexo residencial na cidade de Taiyuan, na China
Homem anda de bicicleta perto de complexo residencial na cidade de Taiyuan, na China

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Apesar de concentrar 20% da população do planeta e da migração urbana nas últimas décadas, a China convive com enormes cidades-fantasmas.

O fenômeno de milhares de prédios novos e desabitados ocorre em várias regiões e alimenta o debate sobre o excesso de investimento imobiliário como causa de uma bolha prestes a fazer estragos na segunda economia do mundo.

A escala dos empreendimentos vazios impressiona. Só em Chenggong, no sudoeste chinês, são 100 mil apartamentos vazios e uma vasta infraestrutura de universidades, escolas, bancos e até duas estações de trem.

A cidade começou a ser erguida em 2003 para ser um satélite da vizinha Kunming, capital da província de Yunnan. Mas, até agora, nada.

A várias centenas de quilômetros de Yunnan, na desértica Mongólia Interior, está Ordos, a mais famosa das cidades fantasmas.

A expectativa inicial era de que a cidade, cercada por jazidas de carvão e gás, crescesse rápido.

Mas, passados dez anos, a promessa não se cumpriu, e hoje são 300 mil apartamentos e uma vasta infraestrutura para uma população oficialmente estimada de cerca de 30 mil pessoas.

"Os chineses pretendiam manter a migração para as cidades nos próximos 20 anos", diz João Carlos Scatena, especialista em planejamento de transporte, há 7 anos na China como consultor.

"Como a economia desacelerou, não estão conseguindo gerar empregos suficientes para retirar as pessoas do campo, apesar de estarem ainda construindo cidades para isso", afirma.

A anomalia se estende mesmo em áreas próximas a Pequim. Em Tianjin, cidade portuária a meia hora da capital via trem-bala, um novo bairro com dezenas de prédios de escritório está sendo erguido em meio a planos do governo local para criar um polo de empresas do mercado financeiro.

Conhecida como Yujiapu, a região ficará pronta em 2019 e terá réplicas de edifícios de Manhattan, incluindo o Rockfeller Center. A um custo estimado de R$ 63 bilhões, o bairro acrescentará mais 9,5 milhões de metros quadrados de escritórios.

A febre de construção também parece ter sido exagerada em Hainan, a ilha tropical no sul do país. Ali, está Phoenix Island, um arquipélago artificial em construção para abrigar um resort, incluindo uma torre de 200 metros. O projeto foi apelidado de "Dubai da China".

EXPLICAÇÕES

Uma das principais explicações para as cidades vazias é a falta de opções de investimento. "Não há outro lugar onde colocar dinheiro, a não ser em propriedade ou sob o colchão", escreveu neste mês o empresário britânico radicado na China Mark Kitto, na revista "Prospect". "O mercado de ações é manipulado, os bancos operam de uma forma não comercial, e o yuan é não conversível."

Kitto prevê que a bolha estourará ou, numa hipótese mais remota, se desinchará lentamente, gerando risco de instabilidade social.

A revista "Economist" tem uma avaliação menos pessimista. Em artigo de maio, avalia que a China não gera "superinvestimento", mas investimento ruim.

A publicação afirma que, apesar dos apartamentos vazios, há uma demanda reprimida e cita uma pesquisa de 2010 segundo a qual o país tinha um deficit de 85 milhões de residências urbanas, com três quartos dos migrantes viviam em desconfortáveis dormitórios das empresas.

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